tag:blogger.com,1999:blog-71331294969885953652024-03-13T19:58:49.181+00:00ColunataJoão Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.comBlogger49125tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-92206618606089644602015-02-03T22:12:00.000+00:002015-02-04T19:33:03.946+00:00Registos de Cinema XXVI, Sono de Inverno de Nuri Bilge Ceylan, 2014<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-94q5y8Z4DqI/VNE_hznKGuI/AAAAAAAAAS4/sN9Jpdmw4kU/s1600/o-winter-sleep-facebook.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-94q5y8Z4DqI/VNE_hznKGuI/AAAAAAAAAS4/sN9Jpdmw4kU/s1600/o-winter-sleep-facebook.jpg" height="160" width="320" /></a></div>
<br />
Inverno e hibernar têm semelhanças fonéticas como se
hibernar fosse a acção do inverno; Sono pode ser um dos sinónimos do estado de
hibernação, dormir pode ser hibernar ou vice-versa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A acção de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sono de
Inverno</i> decorre entre poucos quilómetros de várias distâncias, distâncias
que os homens correm, vencem a pé quando necessário, sem um esforço tão grande que
os impeça. Essas poucas distâncias são a geometria de uma pequena sociedade
isolada do mundo, de um mundo de que recebe os seus ecos mas sem a sua presença, um mundo
distante que pode quase ser irreal, de sonho, ou de perdição. Na aldeia vive-se
a realidade das rotinas e dos conflitos, vive-se a presença do tempo lento e
dos corpos que se enfrentam, quase sem protecção e que se contêm no instinto da
sobrevivência. Um jogo a roçar os limites da provocação e do poder contra a
tolerância, a indiferença e a abdicação de si. Vive-se e representa-se no afã
de personagens que não querem dar-se à luz, mas que persistem nas suas
máscaras, jogando e sonhando sem qualquer desejo de realidade ou concretização.
Vidas suspensas. Em hibernação.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O inverno é a capa, feita de neve, de uma neve que dissolve
e apaga a humanidade da crosta terrestre e a remete ao útero primitivo, à gruta, às grutas dentro das quais as casas da aldeia são construídas. A neve é a rede que mantém
agrupados os prisioneiros do tempo e do espaço infinitos. A casa é o lar, o
fogo, a protecção. Perdê-la seria perder tudo, sobretudo, naquele inverno e naquela neve
que apaga e branqueia as diferenças.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mergulhadas no isolamento, as personagens irrompem da
escuridão e da dissolução, através das palavras o sono é vencido pela vigília,
o diálogo que une os seres convoca as memórias e a vida. A palavra supera o
sono, o esquecimento e a morte. Como uma luz que alumia por dentro, a palavra,
a sucessão de palavras, as frases, os diálogos, propõem uma revelação, uma
consciência e o jogo inicia-se.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
As palavras servem para compreender e humilhar, para se
compadecer e para acusar, servem para cada um se dissimular, ou se queixar;
servem para trazer o que se esconde na alma para a comunhão da mesa. Um
personagem, velho, vai totalizando os diálogos: com o aventureiro que viaja de mota sem
destino; com o Imã submisso que não se consegue afirmar e se desfaz em
desculpas e mortificações; com a irmã que se escondeu da vida e do mundo mas
vive arrependida de ter deixado o marido; com a mulher que desiludiu sem a ter
querido iludir e que o recrimina pela sua solidão; e, finalmente, com a
tertúlia do seu amigo que o recebe em sua casa e com quem fica com outro
conviva a discutir a consciência humana, a sinceridade dos homens e a
consequência entre pensamentos e actos. Por fim, regressa a casa e senta-se a
escrever para a eternidade a História do Teatro Turco.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estará Nuir Bilge Ceylan a escrever uma metáfora sobre a Turquia actual? Seja pela hesitação do mundo rural perante o mundo urbano;
seja pela abdicação da viagem; seja pelo isolamento consentido, procurado; seja
pela persistência de uma cultura clássica universal (o teatro) e de uma
tradição ancestral (religião) que não se querem rejeitar nem se conseguem
abraçar?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pretenderá ir mais além de um drama de costumes ou de
um conto moral, à la Rhomer? O homem recrimina a mulher que recrimina o homem
no choque dos seus imaginários e das suas expectativa quase sempre frustradas;
o senhor e o escravo digladiando-se através de terceiros – o filho do segundo
ou<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a mulher do primeiro – numa
luta pelo poder moral; o Imã que, fiel à paz e à concórdia, está sempre pronto
para o sacrifício do seu orgulho ou da sua vontade; a criança que ferve em ódio
inculcado pelo pai que se deixou humilhar por não se deixar humilhar; a irmã e
o irmão reunidos na casa-mãe interceptando pensamentos e uma certa educação que
seguiu caminhos diferentes e até antagónicos mas que mutuamente se provocam
pelo sentimento do que perderam; os amigos numa tertúlia que o vinho vai aquecendo
até ao ensaio de um conflito que o corajoso vinho faz brotar mas que logo se
apazigua numa evasão ou num vómito; ou o regresso a casa sem glória desistindo
de pelejas e futuros irreais mas ausentando-se do fluir do tempo para lhe
deixar uma História do Teatro Turco.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:DocumentProperties>
<o:Template>Normal.dotm</o:Template>
<o:Revision>0</o:Revision>
<o:TotalTime>0</o:TotalTime>
<o:Pages>1</o:Pages>
<o:Words>712</o:Words>
<o:Characters>4063</o:Characters>
<o:Company>Promontório Arquitectos</o:Company>
<o:Lines>33</o:Lines>
<o:Paragraphs>8</o:Paragraphs>
<o:CharactersWithSpaces>4989</o:CharactersWithSpaces>
<o:Version>12.0</o:Version>
</o:DocumentProperties>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves>false</w:TrackMoves>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:DrawingGridHorizontalSpacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing>
<w:DrawingGridVerticalSpacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing>
<w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>
<w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:DontAutofitConstrainedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
</w:Compatibility>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="276">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<!--EndFragment--><br />
<div class="MsoNormal">
Ou estará concentrado nos conflitos humanos,
mais do que na sua moral ou nos costumes que lhe dão sustento, conflitos que
são o fulcro de toda a humanidade. Por vezes parece que estamos a ver Ingmar
Bergman, o mestre sueco que da periferia norte da Europa se vem encontrar com Nuir Bilge Ceylan da periferia do Sul. E mais do que os interesses das pessoas e
dos seus conflitos entramos no conflito das ideias que as personagens encarnam:
o amor, a consciência e o castigo. O amor surge no debate sobre o castigo.
Castigar é impedir a consciência do arrependimento; dar a outra face é permitir
a iniciativa da emenda, da correcção introspectiva e definitiva. O amor não
pune, deixa descobrir, sem pressa.</div>
João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-32568194945961786552013-06-30T02:05:00.000+01:002013-06-30T02:05:06.193+01:00Os dias felizes e os outros<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-co0toW5iPEs/Uc-DLk5ZDhI/AAAAAAAAASk/SidCNyJZ5_w/s640/086e47ba2a835f8e8294cb28761bcf46.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-co0toW5iPEs/Uc-DLk5ZDhI/AAAAAAAAASk/SidCNyJZ5_w/s320/086e47ba2a835f8e8294cb28761bcf46.jpg" width="214" /></a></div>
<br />
A rotina desaparece e começa uma vida nova. Passado o tempo em que viver tinha como objectivo repetir os dias, os dias felizes e os outros, instala-se uma nova ordem. Ou será desordem?<br />
Todos os dias passam a ser diferentes como se o presente não ligasse passado e futuro. E o pretérito objectivo desapareceu.<br />
Viver passa a ser esperar. Esperar pelo dia em que de novo se possa regressar à rotina de repetir os dias, os dias felizes e os outros, porque ambos são nossos, e para que, assim, a morte quando chegar, recolha o nosso sorriso em vez da nossa incompreensão.João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-46625161213407666752013-06-17T01:03:00.002+01:002013-07-02T22:08:08.056+01:00Registos de Cinema XXV, To the Wonder de Terrence Malik , 2012<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:DocumentProperties>
<o:Template>Normal.dotm</o:Template>
<o:Revision>0</o:Revision>
<o:TotalTime>0</o:TotalTime>
<o:Pages>1</o:Pages>
<o:Words>851</o:Words>
<o:Characters>4851</o:Characters>
<o:Company>Promontório Arquitectos</o:Company>
<o:Lines>40</o:Lines>
<o:Paragraphs>9</o:Paragraphs>
<o:CharactersWithSpaces>5957</o:CharactersWithSpaces>
<o:Version>12.0</o:Version>
</o:DocumentProperties>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves>false</w:TrackMoves>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:DrawingGridHorizontalSpacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing>
<w:DrawingGridVerticalSpacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing>
<w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>
<w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:DontAutofitConstrainedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
</w:Compatibility>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="276">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-daZLajfsArk/Ub5N3nrjndI/AAAAAAAAASU/Glmu6UaERuI/s1600/A-la-Merveille-2-VO_reference.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="http://4.bp.blogspot.com/-daZLajfsArk/Ub5N3nrjndI/AAAAAAAAASU/Glmu6UaERuI/s320/A-la-Merveille-2-VO_reference.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: 'Times New Roman';"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: 'Times New Roman';"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: 'Times New Roman';">1. Neil (Ben
Affleck) e Marina </span><span style="color: #111111; font-family: 'Times New Roman';">(Olga
Kurylenko)</span><span style="color: #1a1a1a; font-family: 'Times New Roman';"> viveram
em Paris, uma paixão arrebatadora e passearam-se idilicamente no
Mont-Saint-Michel, cuja abadia é denomindada: La Merveille. Mais tarde, nos
EUA, para Neil, cuja profissão é detectar sinais de contaminação em terrenos rurais, a paixão entrou
numa rotina sem esperança e a relação perde o sentido. Disso se apercebendo, Marina, procura Quintana (Javier Bardem), um padre católico que se interroga
permanentemente sobre a sua relação com Deus. Marina decide regressar a Paris sem uma
aparente razão aproveitando o facto, técnico, do seu visto estar a expirar e Neil
não ter decidido casar com ela. Sozinho, Neil reencontra Jane (Rachel
McAdams), de quem tinha gostado na juventude, mas também com Jane, Neil, não foi capaz de se
compromoter e deixaram-se. Marina, entretanto regressa dando-se-lhes uma segunda oportunidade mas, as promessas do primeiro amor
depressa se dissiparam e Neil, no momento de se comprometer com o futuro, apesar
de se terem casado, hesita em ter um filho e Marina destroçada entrega-se ao
primeiro homem conhecido com que se cruza e lhe deita um olhar. Esta a sinopse
de <i>To the Wonder</i>. Dois homens em sentido oposto, um que se deixa tomar pelo vazio
(Neil) e outro que luta pela vida contra o vazio (Quintana o padre). Duas
mulheres (Marina e Jane) que procuram uma realização, uma concretização, um
comprometimento e que são abandonadas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; tab-stops: 51.2pt; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">2.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"> </span><span class="Apple-style-span" style="color: #1a1a1a; font-family: 'Times New Roman';">Seria
importante relacionar La Merveille (a abadia do Monte de Saint Michel na Normandia),
com a abordagem do Amor e da Verdade ensaiada por Terrence Malik. Primeiro
porque é explícito na escolha do título do filme, depois porque sendo um dos
cenários do filme e ficando como título há-de ter um significado concreto: há
na “Maravilha” um duplo sentido humano e divino que está presente nesta obra de
Malik. Em teoria, explicando La Merveille poderia explicar-se o filme.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="color: #1a1a1a; font-family: 'Times New Roman';">La
Merveille é um lugar que ganha importância com a implementação do cristianismo
na Europa como lugar de oração e estudo. Centro de peregrinação com raízes
religiosas ancestrais, La Merveille, foi sendo construída como uma porta que
liga a Terra e o Céu: a sua arquitectura no estilo gótico flamejante, é em si
mesma a transformação de um macisso rochoso numa abadia monumental enriquecida
por detalhes ornamentais de grande delicadeza.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: 'Times New Roman';">É este
carácter diria mágico que faz de La Merveille um lugar denso psicologicamente e propício a uma transmutação interior: como se cada um fosse tomado por um encantamento, que
o fizesse tocar os céus. Depois dessa experiência, o mundo, é uma longa
provação. Como se entre as pesquisas geológicas infernais de Neil e o enlace
amoroso com Marina em La Merveille se deambulasse entre o céu e o inferno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: 'Times New Roman';">3. </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman';">To the Wonder</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman';">, que recebeu em português o título <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
Essência do Amor</i>, é uma procura do Amor verdadeiro e da Verdade em si
mesma. O Amor verdadeiro é o que dá o braço à Verdade, é o que, não presume
resumir-se aos falíveis sentimentos humanos mas que procura dar a esses
sentimentos um destino superior à sua simples dissolução. Fala-nos do Amor humano que
se declina do Amor de Deus e que a ele se terá de manter fiel. Diz-se
interrogando:</span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman';">— Que Amor é este que nos ama, que vem de parte nenhuma, de tudo em
redor, do céu, das nuvens? Tu também me amas?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">O Amor de que todos
participamos não nasce em nós, não nasce em cada um e depois é trocado entre todos. O Amor
é uma relação de que todos participamos e que assume formas diferentes nas relações
sem que deixe de ser o mesmo Amor. É sempre participação de uma realidade que
nos transcende. Da nossa condição, então, não temos a plenitude da experiência
amorosa e o nosso carácter, a nossa incompreensão, a nossa ignorância
exprime-se no bloqueio à corrente do amor, exprime-se no egoísmo, no isolamento
em que nos afirmamos mas em que, depois, ficamos sós e sem Amor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">O padre Quintana,
vive a consciência desse bloqueio, acredita, dedica-se, mas algo nele o impede
da experiência empática com Deus, com o Amor de Deus. Quer ver mas não vê e nas
suas homilias, no seu esforço de compreensão e de comunicação, não foge às
questões e enfrenta-as e diz que se por alguma razão não sentires o Amor então
obedecerás, porque quando Cristo diz Amarás, não está a sugerir mas a mandar
que se ame, a mandar cada um impor-se a essa necessidade de amar para lá da sua
compreensão, pois só assim poderá encontrar o Amor e não, desistindo porque não
sente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">O Amor verdadeiro é
comprometimento, diz Quintana, e essa Verdade do cristianismo, que é todo ele
comprometimento e empenho, dedicação e esperança, não poderia dizer-se outra coisa
sob pena de chegar à mesma conclusão de Anne: se isto não foi Amor então não
foi nada, foi apenas prazer e luxúria. Sem verdade isso é vício. É aqui que se
dá o carácter transfigurador do Amor: tudo se pode sempre reduzir a nada, tudo
se pode sempre reduzir ao vício, mas a consciência permite-nos viver os
sentimentos com uma finalidade para além de apenas sentir, com uma finalidade
que torne os sentimentos robustos e cada vez mais fortes, e isso é o
comprometimento, o empenho, a dedicação, a esperança de uma realização íntima e
transcendente, pessoal e universal. Um comprometimento mútuo em vez de um mútuo uso. Porque estaremos mais disponíveis para sermos usados mutuamente em vez de procurarmos ser mutuamente comprometidos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Nas suas
deambulações, porque as personagens neste filme parecem sempre deambular numa espiral
interior, surge a segunda pergunta chave do filme: onde estamos quando estamos
lá? Ou, o que é verdade quando estamos lá em cima? Esta interrogação liga a
Verdade e o Amor, ou seja, põe a interrogação sobre o que seja a Verdade numa
perspectiva não humana mas divina: se soubermos o que é a Verdade, o que será essa
Verdade? Daqui apenas a podemos imaginar, sonhar, ou ouvir e não podendo saber
o que é a Verdade pela nossa condição actual, podemos pela oração e pela
reflexão na Verdade revelada ir desvelando e desencobrindo esse Amor que
nos parece distante de nós e quase desumano, caso não fosse para nos dar a
plenitude da nossa humanidade que ele existisse.<span class="Apple-style-span" style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<!--EndFragment-->João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-56777565083859469442013-06-10T22:31:00.000+01:002013-06-17T01:05:05.477+01:00Registos de Cinema XXIV, Before Midnight de Richard Linklater , 2013<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:DocumentProperties>
<o:Template>Normal.dotm</o:Template>
<o:Revision>0</o:Revision>
<o:TotalTime>0</o:TotalTime>
<o:Pages>1</o:Pages>
<o:Words>1085</o:Words>
<o:Characters>6190</o:Characters>
<o:Company>Promontório Arquitectos</o:Company>
<o:Lines>51</o:Lines>
<o:Paragraphs>12</o:Paragraphs>
<o:CharactersWithSpaces>7601</o:CharactersWithSpaces>
<o:Version>12.0</o:Version>
</o:DocumentProperties>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves>false</w:TrackMoves>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:DrawingGridHorizontalSpacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing>
<w:DrawingGridVerticalSpacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing>
<w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>
<w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:DontAutofitConstrainedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
</w:Compatibility>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="276">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-fZ9oXfgnyD4/UbXUGAM5J3I/AAAAAAAAASE/nwzDxlqVPuk/s1600/before-midnight-5-delpy-hawke.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-fZ9oXfgnyD4/UbXUGAM5J3I/AAAAAAAAASE/nwzDxlqVPuk/s1600/before-midnight-5-delpy-hawke.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
1.<br />
O tom geral do filme e a representação parecem ensaios em
que os actores, estão tão familiarizados com os seus papéis, que os representam com
excesso de à vontade e com pouca densidade, por isso mesmo de não representarem
os diálogos, mas os dizerem. Estes parecem ditos em contra-relógio,
disparados sem os tempos próprios de reacção nos quais os actores fariam as
personagens construir respostas pensadas e provocatórias que apenas são verosímeis caso haja o tempo de ouvir, o tempo de digerir e inventar e o tempo de
responder. Os silêncios são ocupados pela resposta pronta e previamente
definida.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há uma informação e uma riqueza de assuntos ao longo do
filme que parecem desadequados para as personagens, sobretudo de Jesse (Ethan
Hawke). Julie Delpy parece ter um papel, o de Céline, mais feito à medida da
sua representação, sempre a tentar ser muito natural, parecendo quase que a
personagem e ela própria estão em perfeita sintonia. Denota um prejudicial <i style="mso-bidi-font-style: normal;">overacting</i>. Já Jesse parece ser sempre
superficial, demasiado exposto para um escritor, com opiniões coladas à cultura
da citação, com ideias para livros sempre muito pretensiosas como se tudo o que
lhe vem à cabeça fosse interessante ou genial. Essa personalidade sem filtro não parece
ser adequada a um escritor, muito menos aquela partilha com desconhecidos,
amigos recentes mas desconhecidos, das ideias que vai tendo como se um autor
não guardasse para si e protegesse, a surpresa da narrativa, sobretudo, entre pares, como é o caso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
2.</div>
<div class="MsoNormal">
Entre vários temas secundários, o tema central é a relação de
Céline e Jesse, num momento em que se abre um conflito enraizado nas diferenças
de quem não pode, pela sua condição (Jesse tem um filho que não vive com ele e por quem desenvolve um sentimento de culpa / perda quando ele regressa a casa da mãe depois das férias com o pai), partilhar a totalidade dos seus problemas,
dos seus sentimentos e da sua forma de encarar o futuro. Um sentimento não
partilhado, um problema individual, ou uma expectativa que não é comum, podem
ser falha que dá origem à separação porque isolam um em relação ao outro.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Existem muitas banalidades para alimentar as questões de
género e o filme não as dispensa: o chorrilho das razões de queixa com os
pormenores do dia-a-dia, como a tampa da retrete para cima ou para baixo, as
tarefas de cada um nesse dia-a-dia, os esforços de um e que presume que o outro
não repara, etc. A psicologia feminina e a psicologia masculina em vez de
actuarem nas vantagens da diferenciação colidem na tentativa de se
homogeneizarem e, daí, o conflito. Os conflitos não resultam de pessoas
diferentes quererem objectos diferentes, mas de pessoas diferentes quererem o
mesmo objectivo. A partilha de objectivos convoca a diferença e não a
igualdade, a partilha de objectivos convoca a complementaridade e não a
mesmidade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A questão é, então, perceber se houve, na relação que
termina, um mesmo objectivo ou se apenas houve uma disposição interior para representar numa realidade ficcionada que era a de haver algo em comum que era partilhado. Que
factor desencadeou essa disposição e que factor a abortou? As banalidades do
dia-a-dia são uma mentira útil em que não se é sério consigo mesmo
se as invocarem como motivo de queixa relativamente ao outro.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os papéis feminino e masculino nas relações são muitas vezes assumidos, inicialmente, de uma forma que se vai transformando e quase inverte, posteriormente, com
o passar da novidade, com a instalação das rotinas e com a manifestação
continuada das personalidades. Percebe-se, muitas vezes, que os papéis
inicialmente assumidos não sendo forçados alimentavam-se de uma assumpção
deliberada que acaba por se deixar de alimentar. Ou seja, tudo o que era inicialmente
assumido e aceite, quebrado o encanto, é dito afinal como tendo sido tolerado,
ou seja, perdendo-se a disponibilidade para amar, tudo passa a ser visto ao
contrário. O outro que era amado tal qual era passa a ser o que impede o mesmo
de ser aquilo que o outro é. Explicando: a mulher<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que fazia com doçura e prazer determinadas tarefas, de
súbito, passa a criticar o homem por ele não fazer também aquilo que ela faz,
que afinal essas tarefas eram penosas e ela fazia-as com sacrifício pessoal e
preferindo delegar (coisa que depois não seria verdade, pois apenas quer que se
reconheça a importância vital e suprema das suas actividades em prol da família
e dos outros), e passa a dizer que o que ela queria mesmo fazer era fazer aquilo
que ele faz (apesar de depreciar e fazer equivaler à nulidade essas actividades
ociosas) e irrita-a vê-lo a fazer aquilo que ele faz porque estando ele a fazer
esvazia a possibilidade de estar ela a fazer. O conflito, diríamos, combate,
não é racional. É emocional e tem a ver com as perdas irreparáveis que todos
carregamos e não conseguimos superar. Vivêssemos em paz connosco próprios e não
haveria conflitos que nos atormentassem.<br />
<br />
O anfitrião da casa de férias, um velho escritor que aqui se pretende que simbolize a sabedoria, aconselha os seus convivas sobre a frase inscrita no frontão do Templo de Delfos "Conhece-te a ti mesmo".</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
3.</div>
<div class="MsoNormal">
Na cena final procura-se um fim feliz. Considerando as
características de Céline o fim feliz é consistente, ou seja, conjuga-se com a
personalidade inconsequente de Céline, mas não é o corolário da
conversa que manteve durante a noite com Jesse. O amor estava impossibilitado
com tudo o que se disse. Jesse sai do quarto onde Celine o deixou sozinho e vai
sentar-se junto de Celine tentando demovê-la da decisão de não o amar. Ela
decidiu não o amar. Isso não é coisa que se decida. Ama-se ou não se ama. O
resto são indecisões de diversas fontes e motivos nascidas e criadas nas insinceridades que temos
para connosco próprios. Mas sobre amar, se há dúvidas, então, não se ama.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Teríamos assistido, no final do filme, ao fim de uma
relação. O que se disse fez nascer dois estranhos, duas pessoas que apesar de
toda a intimidade e confiança se tornam de súbito, um para o outro, estranhos. Como se
dentro do outro houvesse um ser inesperado que sai de uma ignorada latência
para a afirmação e esse ser é um estranho. Aí, percebe-se que o amor era afinal,
apenas, a coincidência de investimentos pessoais numa ilusão que só poderia
durar o tempo da vontade dessa coincidência. Essa coincidência começa com um
desejo mútuo, depois torna-se numa cerimónia , depois numa hesitação
desgastante alimentada por um certo incómodo moral e, por fim, dá-se a ruptura,
feita de separação e rejeição como se da libertação de uma toxina se tratasse.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Podia ser uma história das imitações do amor. Imitações num tempo
em que se vive só para a imagem, para a superficialidade e para o vício. O
amor, ou antes, a sua imitação é mais um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">prêt-a-porter</i>
sem verdade nem responsabilidade. E sem respeito genuíno pelo outro. O outro
não é acolhido no coração, é apenas um invasor a quem, por qualquer interesse, não
se dá luta temporariamente. Por medo da solidão, por luxúria, por conveniência,
por muitas razões, até razões insondáveis.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pudesse cada um conhecer-se verdadeiramente a si próprio e
talvez pudesse, então, saber o que é e não aquilo que presume ser. Pudesse cada
um conhecer-se a si próprio e talvez descobrisse que os actos que presume
sérios, verdadeiros e sinceros possam ser oportunistas, interesseiros e até
vazios como os daqueles que despreza. No filme de Richard Linklater, como
afirmamos antes, tudo acaba numa pieguice irreal. Tudo estava acabado quando a
primeira dificuldade abriu não um pequeno roço mas uma fenda cósmica. Ambos
transportavam essa fenda cósmica apenas não lhe davam importância para melhor
enfeitarem a sua simulação do amor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sendo quase natural, o Amor, é quase impossível pelo menos
enquanto não houver dentro do fundo de nós um mínimo sentido da heroicidade que
é aquele que nos ensina a ter coragem de morrer pelo outro.</div>
<!--EndFragment-->João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-54144674718946604822013-06-10T21:50:00.002+01:002013-06-10T21:55:11.113+01:00Dois apontamentos sobre a complexidade<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-nJWfwILyl78/UbPNTN1T9AI/AAAAAAAAAR0/x6xSjgGwtMM/s1600/DSC01086.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-nJWfwILyl78/UbPNTN1T9AI/AAAAAAAAAR0/x6xSjgGwtMM/s320/DSC01086.JPG" width="240" /></a></div>
<br />
O efémero alimenta o dia-a-dia, por exemplo: de notícias. Mas cada um, apesar dessa ilusão informativa, vive numa corrida de fundo que o leva onde queira ou não queira, para onde saiba ou não saiba, como a doença, por exemplo, que se vai lentamente formando até se tornar um problema no momento da sua manifestação. Será a isto que chamamos complexidade?, a dificuldade que nasce da relação entre o fluxo da vida e a nossa consciência reflexiva?<br />
<br />
...<br />
<br />
Há um curso natural que o homem procura descortinar, até à presunção da descoberta, o elemento primordial a partir do qual pudesse construir a mesma realidade em que a vida se manifesta, expressa e se dá. É a esperança dos que tomam o mundo físico e a fenomenologia como sendo toda a realidade. É a esperança dos que consideram que o mundo material é todo o mundo e têm como fim demonstrar que não há espírito nem transcendência mas apenas matéria (ainda por definir o que seja e até que haja) e imanência.<br />
<br />
Há, também, um curso especulativo, em que a actuação do homem vem do espírito e o homem actua sobre o mundo físico e fenomenológico, não para o manipular e por ao seu serviço, mas para o compreender e interpretar e assim dar um sentido à sua vida inteligente, à sua consciência e à existência em que participa. E, também assim, dar à natureza uma finalidade cujo estado e condição não permitem mais que repetir-se infinitamente sem progresso moral e intelectual como se nada significasse.<br />
<br />
É complexo, perceber que há um curso natural e um curso especulativo e que tudo depende da realidade e veracidade que for atribuída ao pensamento que é afinal onde tudo se decide quer para uns quer para os outros. Por isso surgiu a filosofia, e a sua complexidade está mais na noção de humildade, de nos despirmos para atravessarmos o rio, do que em todo enciclopedismo coleccionista que possamos armazenar em nós e fora de nós.<br />
<br />
<br />João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-8338105237335885652013-06-09T00:33:00.003+01:002013-06-17T01:05:14.260+01:00Registos de Cinema XXIII, Searching for Sugar Man de Malik Bendjelloul , 2012<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:DocumentProperties>
<o:Template>Normal.dotm</o:Template>
<o:Revision>0</o:Revision>
<o:TotalTime>0</o:TotalTime>
<o:Pages>1</o:Pages>
<o:Words>270</o:Words>
<o:Characters>1539</o:Characters>
<o:Company>Promontório Arquitectos</o:Company>
<o:Lines>12</o:Lines>
<o:Paragraphs>3</o:Paragraphs>
<o:CharactersWithSpaces>1890</o:CharactersWithSpaces>
<o:Version>12.0</o:Version>
</o:DocumentProperties>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves>false</w:TrackMoves>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:DrawingGridHorizontalSpacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing>
<w:DrawingGridVerticalSpacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing>
<w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>
<w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:DontAutofitConstrainedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
</w:Compatibility>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="276">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-jGdzbyLPQMI/UbO-9vJ3KSI/AAAAAAAAARk/-_E7UKN1y54/s1600/sugarman-e1343207724660.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-jGdzbyLPQMI/UbO-9vJ3KSI/AAAAAAAAARk/-_E7UKN1y54/s320/sugarman-e1343207724660.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que é um herói?, perguntava-me há dias, tentando encontrar
um significado para os actos humanos, um significado que fosse determinante
para os distinguir de simples acções. Conhecendo a história de Rodriguez a
resposta poderia ser: o anti-herói!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Num tempo de espavento e pigmeus empoleirados, de
pseudo-vates em pose definindo com rigor os 3/4 de torção do seu busto no palco da televisão ou de
auto-proclamados pensadores pertinentes detentores de uma moral considerável e
a ter em consideração, Rodriguez, o anti-herói, é tudo o que os outros queriam
parecer ser e ele próprio, do alto da sua autoridade e do seu real talento, não
parece. Mais, não parece nem aparece, porque se apagou, indiferente ao mundo, e se dissolveu entre operários tarefeiros vivendo de anónimos biscates e
trabalhos pesados que ninguém quer fazer.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De trolha a estrela rock, herói de um país (Africa do Sul) que não conhecia,
Rodriguez, entra e sai do seu estatuto com a mesma serenidade, a mesma
humildade, a mesma irradiante simpatia e o mesmo acolhimento do próximo. É assim que
deixa a sua casa de sempre em Detroit depois de 20 anos afastado dos palcos
para ir dar 6 concertos esgotados na África do Sul, perante um público em
êxtase que descobriu que afinal não era órfão de um pai espiritual que nunca conheceram
nem presumiram poder alguma vez vir conhecer, mas que lhes tinha legado as cores dos
seus sonhos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O primeiro concerto em Cape Town é um assombro, não por uma histeria do público, como a que causavam nas adolescentes os Beatles ou Elvis Presley, mas pelo
preenchimento de alma que a sua aparição lhe concedeu, como um milagre ou uma
bênção que sobre ele se derramou. O impensável estava, então, a acontecer e Rodriguez
abraçou o público, beijou-<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">o e devolveu-lhe</span> um novo sentido para a palavra esperança.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Depois
voltou para a sua pequena casa de sempre sem se preocupar em “capitalizar” o
seu sucesso. Sorridente, com a sua guitarra e os seus trabalhos de restauro de
casas.</span><!--EndFragment-->
João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-57748914599048223602013-03-20T09:33:00.001+00:002013-03-21T18:50:31.062+00:00Registos de Cinema XXII, Et si on vivait tous ensemble? de Stéphane Robelin, 2011<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:DocumentProperties>
<o:Template>Normal.dotm</o:Template>
<o:Revision>0</o:Revision>
<o:TotalTime>0</o:TotalTime>
<o:Pages>1</o:Pages>
<o:Words>355</o:Words>
<o:Characters>2024</o:Characters>
<o:Company>Promontório Arquitectos</o:Company>
<o:Lines>16</o:Lines>
<o:Paragraphs>4</o:Paragraphs>
<o:CharactersWithSpaces>2485</o:CharactersWithSpaces>
<o:Version>12.0</o:Version>
</o:DocumentProperties>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves>false</w:TrackMoves>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:DrawingGridHorizontalSpacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing>
<w:DrawingGridVerticalSpacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing>
<w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>
<w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:DontAutofitConstrainedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
</w:Compatibility>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="276">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-lqjAh5aj2OM/UUl8JgIwOBI/AAAAAAAAARA/k-ThUo4hgR4/s1600/Et-si-on-vivait-tous-ensemble-photo-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-lqjAh5aj2OM/UUl8JgIwOBI/AAAAAAAAARA/k-ThUo4hgR4/s320/Et-si-on-vivait-tous-ensemble-photo-2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Sendo parte comédia, parte drama, o que
normalmente se pode traduzir por brincar com coisas sérias, “Et si on vivait tous ensemble?” é um filme triste. É de uma tristeza ainda mais triste porque
trata com superficialidade temas como a velhice e a dependência, amizade e a
traição, o altruísmo e a vaidade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Há nas personagens uma auto-suficiência que as impede de uma visão da vida
para além dos limites do seu interesse imediato, incluindo esse interesse de
viverem todos juntos, por uma mera conveniência: preferem estar juntos
do que a ser ajudados em impessoais lares de idosos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">As personagens procuram viver o presente e nisso são optimistas. Vence-se cada dia com o prazer possível que é, naquela idade, de certa forma, resignado a um passado que já não se pode mudar. Um prazer que é, no presente, a sensação de viver do balanço das memórias que se vão adensando com a ultrapassagem de certa
curva da idade. O tempo, essa irremediável sucessão, deixa o passado ir-se
instalando e esse passado, doce e irrepetível, vai tomando lugar, preenchendo o espírito e toldando a objectividade à medida as faculdades desaparecem e as obsessões, antes domadas pela educação e pela capacidade de apagar para evoluir, </span>se soltam. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">É desses passados, aparentemente esquecidos que se desenterram baús
abandonados que, por vezes, são caixas de Pandora, prontas a infernizar vidas
mergulhadas em águas paradas, profundas. Vidas que deixaram de acreditar no milagre que perderam a ingenuidade e
deixaram de lutar, preferindo a sonsa gestão diária das aparências, dos prazeres mundanos e das alegrias vazias, apenas convencionais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">O que as amargura e entristece?, viver na solidão para que os seus actos as remeteram. A consciência de um certo vazio existencial que emerge da cumplicidade com o mundo desiludido e indiferente ao amor e à ternura, à verdade.</span><br />
<span lang="PT"><br /></span>
<span lang="PT">Que vale, de repente, alguma coisa a que
dedicamos o nosso amor e a nossa paixão, em que confiamos como se confiássemos
em nós próprios, e que, subitamente, vemos espezinhada pela traição, pela
indiferença e pelo egoísmo? Um enorme vazio instala-se. Afinal
nunca nada terá sido aquilo que pensáramos que era, e as pessoas que à nossa frente sorriam e nos falavam não eram elas mas outras que, </span>sem verdade nem coragem, atrás delas se escondiam sem nos falarem nem nos sorrirem.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">As personagens de “E se vivêssemos todos
juntos?” parecem ser, no final, tolerantes o suficiente para tudo ultrapassar
depois de um breve choque. Mas são personagens de um filme em que o relativismo
e a superficialidade imperam. Porque não cada um fazer só o que lhe apetece e
ter maçadoras responsabilidades que implicam sacrifícios e abdicar de nós
próprios por valores superiores? Aqueles que permitiram existirmos num mundo em
que pelo menos há a ideia de civilização, se é que isso importa.</span></div>
<!--EndFragment-->João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-50772645786602892172013-03-09T10:19:00.000+00:002013-03-10T16:25:00.324+00:00Hipnos e Morfeu<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:DocumentProperties>
<o:Template>Normal.dotm</o:Template>
<o:Revision>0</o:Revision>
<o:TotalTime>0</o:TotalTime>
<o:Pages>1</o:Pages>
<o:Words>191</o:Words>
<o:Characters>1092</o:Characters>
<o:Company>Promontório Arquitectos</o:Company>
<o:Lines>9</o:Lines>
<o:Paragraphs>2</o:Paragraphs>
<o:CharactersWithSpaces>1341</o:CharactersWithSpaces>
<o:Version>12.0</o:Version>
</o:DocumentProperties>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves>false</w:TrackMoves>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:DrawingGridHorizontalSpacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing>
<w:DrawingGridVerticalSpacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing>
<w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>
<w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:DontAutofitConstrainedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
</w:Compatibility>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="276">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-89AafPjaA6A/UTsLXCOnsVI/AAAAAAAAAQw/P2XyE8IsdAw/s1600/1vt2leighton_idyll_thumb.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="169" src="http://3.bp.blogspot.com/-89AafPjaA6A/UTsLXCOnsVI/AAAAAAAAAQw/P2XyE8IsdAw/s320/1vt2leighton_idyll_thumb.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Deitados na cama ou até adormecidos num sofá ,
repetimos diariamente a experiência de morrer. Mas a morte de quem se reclina e
se deixa voluntária e docemente prostrar, acredita que, de manhã, uma luz
auroral lhe entrará pelo quarto e o fará acordar como quem ressuscita para a
vida consentidamente interrompida.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">O sorriso com que se entra nesse irmão da
morte que é o sono, é traçado pela confiança de que a ressurreição é certa e
trará consigo uma certa renovação da própria vida que por horas se interrompe.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Mais enigmático ainda é, por se saber que,
muito provavelmente, se acorda de manhã, e, então, se regressa à vigilância, alguém se deitar tranquilamente apesar de ficar à total
mercê de qualquer acto que possa aproveitar essa suspensão da atenção, da
vigília e da guarda. Seres que vivem um terço do tempo da sua vida à mercê do
que os possa submeter, tomar, raptar, matar, etc., conseguem, ainda assim,
repousar a cabeça numa almofada e entregarem-se nos braços de Morfeu
(sonho), filho de Hipnos (Sono).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span lang="PT" style="font-family: Cambria;">Intrigante mistério este, de tanto procurarmos
defesas, seguranças e garantias que nos preservem a vida e, em cada dia,
repetida e previsivelmente, nos entregarmos, serenamente desprotegidos, no
convívio íntimo com o mais perigoso
– o mal – e o mais trágico – a morte.</span>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-84115362959064710262013-02-22T02:53:00.002+00:002013-02-22T03:09:58.338+00:00Registos de exposições, Inez Teixeira, Coração Aventuroso, Fundação EDP, Museu da Electricidade, 2013<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:DocumentProperties>
<o:Template>Normal.dotm</o:Template>
<o:Revision>0</o:Revision>
<o:TotalTime>0</o:TotalTime>
<o:Pages>1</o:Pages>
<o:Words>682</o:Words>
<o:Characters>3892</o:Characters>
<o:Company>Promontório Arquitectos</o:Company>
<o:Lines>32</o:Lines>
<o:Paragraphs>7</o:Paragraphs>
<o:CharactersWithSpaces>4779</o:CharactersWithSpaces>
<o:Version>12.0</o:Version>
</o:DocumentProperties>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves>false</w:TrackMoves>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:DrawingGridHorizontalSpacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing>
<w:DrawingGridVerticalSpacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing>
<w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>
<w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:DontAutofitConstrainedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
</w:Compatibility>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="276">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-n6KMAyydQTY/USbc7VzvdFI/AAAAAAAAAQg/DinLAnxJv2A/s1600/fotografia.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="260" src="http://3.bp.blogspot.com/-n6KMAyydQTY/USbc7VzvdFI/AAAAAAAAAQg/DinLAnxJv2A/s320/fotografia.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Num primeiro momento, pensamos visitar um mundo que já antes
nos tinha sido apresentado, mas à medida que avançamos e fixamos a nova série
de pinturas e desenhos de Inez Teixeira mais nos deixamos envolver em vários
séculos de pintura e de literatura. Distingue-se da banal pintura contemporânea
que pretende ser apenas contemporânea e para isso recorre às estratégias de
representação e aos temas que fazem a actualidade dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">media</i>. Aqui é diferente, a sensibilidade informada pela longa e
detida reflexão de temas universais, cruzada com a contemplação da arte que já
superou a provação do tempo, desde as formas pictóricas e esculturais às
literárias, ou seja, as formas poéticas e não apenas estéticas, essa
sensibilidade culta introduz um grau de dificuldade interpretativo que não
inviabiliza a estesia mas a ela não se reduz.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há na arte contemporânea uma espécie de truque que leva a
incluir num mesmo saco, numa mesma intencionalidade, toda e qualquer
manifestação que se autoproclame artística. A presunção democrática garante
depois o direito ao espaço público. A mesma presunção democrática igualiza
depois as obras e os artistas não deixando descolar diferenciações
<i>desigualitarizantes</i>. A natureza do espaço público contemporâneo é essa mesma
pseudo-igualdade e essa pseudo-licença à participação fazendo do número e da
quantidade símbolo e categoria, valorizadores das intenções e construtores de
uma verdade aclamada por <i>unanimismos</i> e consensos. Porém, a natureza da arte autêntica é
<i>desigualizar</i>, singularizar e diferenciar a criação individual.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Feito este aviso sobre uma suspeita antiga sobre o baixo valor
e até o pouco interesse intelectual da arte contemporânea e dos seus epígonos,
regressamos ao novo conjunto de obras de IT que distinguimos do discurso
temporal da contemporaneidade sem lhe atribuirmos um anacronismo nem uma necessária
expressão do seu contrário. Em <i>Coração Aventuroso</i>, título retirado à obra
homónima de Ernst Junger, Inez Teixeira aventura-se numa trama de abstracções quase
figurativas, permanentemente sugestivas e incompletas, suscitando um
“trabalho” incessante de reconstrução de aparências numa procura de lucidez,
identidade, reconhecimento e, finalmente, conclusão do que na pintura ficou em
aberto. Este trabalho <i>a meias</i> com o espectador, observador atento e
interactuante, abre um campo de memórias e de graus de realidade, que acabam
por regressar a um sempre mesmo</div>
<div class="MsoNormal">
tropo: o regresso ao antes do princípio, o regresso ao
processo da criação: a libertação de um caos magmático, elástico, ainda
hesitante e moldável, mas já estruturado, uma espécie de pré-nascimento das
formas que cingem, delimitam e definem os corpos, realidade indivisível e sagrada, antes do golpe perpetrado pela filosofia (e a ciência) moderna.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Esta visão pré-criacionista, esta ebulição do elemento
natural na luta pela formação, pelo direito ao corpo, pelo direito à alma,
representa um apelo, ou pelo menos exibe um sinal de alerta para a necessidade
de rever tudo e recomeçar, como numa aventura vivida à procura do amor – com
carne e sangue, alegria e sofrimento.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há uma noite (negro) de onde as formas parecem surgir
iluminadas e retorcidas, atraídas por uma luz que as impulsiona para se
formarem, para nascerem – um movimento que as perpassa e lhes parece dar um
destino. Aquilo que parece ser uma revolução da natureza assume-se, assim,
antes, como uma dramaturgia espiritual, uma inquietação da alma e uma expressão
da luta pela presença, pelo aparecimento, pela vida. Fluindo em curvas e
contracurvas, destacando ou esbatendo formas em fundos que ora são negros ora
parecem ser brancos, desenhando estas linhas que são em si mesmas
transfigurações permanentes sem cair no pecado ou na antecipação da linha
recta, a pintura pode ser o que todos quiserem sem que deixe de ser o que é.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Muitos se hão-de entreter a olhar e a tentar reconhecer as
formas que conhecem. É um processo comum aos homens por ser um acto espiritual:
traçar sobre o aparente caos uma linha que organize em formas cognoscíveis e
inteligíveis uma semelhança sobre a qual se possa dizer o que é. Quantos não o
fizemos a olhar uma parede com salitre ou as nuvens no céu? Mas também
reconhecerão citações , creio que involuntárias, de Goya, William Blake,
Yourcenar, obviamente Ernst Junger, entre outros.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: Cambria;">Trata-se
de uma arte que faz pensar, coisa arredada de qualquer expressão artística dita
contemporânea cujo único objectivo é o reconhecimento epidérmico pela
semelhança a qualquer coisa da qual se tem também um conhecimento apenas
epidérmico. Este fazer pensar e cumulativamente sentir é coisa, diria, para
iniciados, mas a autora não terá essa pretensão, embora a subtileza da sua
sensibilidade tal induza e obrigue.</span><!--EndFragment-->
João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-20000992337727382362013-01-19T15:42:00.002+00:002013-01-25T21:07:53.465+00:00Partir<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-K_GlwxEYdzQ/UPq-UEuLANI/AAAAAAAAAQA/Byc5x3U8Kp8/s1600/L1000703.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="http://1.bp.blogspot.com/-K_GlwxEYdzQ/UPq-UEuLANI/AAAAAAAAAQA/Byc5x3U8Kp8/s320/L1000703.JPG" style="cursor: move;" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
Partir?, ninguém parte, apenas constrói o muro do esquecimento. Chega a parecer uma ficção surrealista a nossa tendência para sobrepor pessoas diferentes numa mesma conformidade, num mesmo contorno, numa mesma expressão. Os que amamos vemo-los sempre crianças, vemos sempre a suspensão dos seus sonhos por vir, mais tarde vemos a sua luta contra o desencanto e, por fim, a resignação nalgum porto a que chamam sorte e onde tentam encontrar uma racionalidade que justifique tantos projectos desfeitos, tantas expectativas não concretizadas, tantas desilusões.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
Se procurarmos bem, nunca teremos de nos queixar, se nos compararmos com os outros, encontramos muitas vantagens em sermos nós, porém, por mais que nos exercitemos em nos imaginarmos outros, vistos de fora, sabemos que estamos amarrados a nós e só a nós, sem poder ser outro que não o outro de nós próprios, e nenhum consolo nos pode atenuar as dores nem nenhuma tragédia pode roubar-nos a alegria. A individualidade outorga-se no corpo e na carne, não há vidas emprestadas, nem vidas aliviadas, nem felicidades por interposta pessoa.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
Lembro-me de pensar que o mundo era o que eu via e o que eu imaginava que seria a vida que as outras pessoas me contavam. O meu mundo mais o delas faziam o mundo que para mim contava. O que tinha racionalidade, totalidade, universalidade. O resto eram subúrbios e esboços da realidade que não chegavam a contar. Um dia, as outras pessoas começaram a morrer e com elas levaram parte do mundo tal como eu o imaginara, iria haver coisas que não iria chegar a ver nem conhecer. Cada um que partia levava consigo uma parte das minhas esperanças e um convidado do meu banquete, até que a mesa ficou quase vazia. Com os lugares postos expectantes. Ninguém parte!</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
O tempo passou, a juventude passou, parte da idade adulta já lá vai, e sem querer mascarar a velhice com uma surpreendente e patética juventude, recuamos no espaço até aos lugares da memória. Espírito e memória é tudo o que nos resta ainda que a carne ainda esteja vigorosa, os músculos reactivos e o ânimo vigilante. Espírito e memória são o que nos resta, aliás, são o que conta no regresso ao essencial, no regresso à vida com perspectiva, defronte do crepúsculo libertador. David Bowie pergunta-se: “Where are we know?”, regressando ao passado, e nós com ele, porque ele também é parte do nosso passado.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
Mas os nossos passos já não são os passos de quem tem o direito ao presente, são sim os passos de quem passa pelo presente para ir a outro lado porque este presente já não lhe interessa, já não lhe pertence, está repleto de cadáveres imobilizados, toda a memória de um tempo perdido, ou temporariamente suspenso, porque não há esquecimento!, senão o voluntário. Aquele que precisamos de impor para viver sem sobrepor os amantes, as idades, as obras, os lugares e tudo – o tempo é o escalonamento do esquecimento. Os nossos passos, na fronteira da realidade a que pertencemos/não-pertencemos, reconstroem no espaço o que emerge da dissolução do tempo: a presença absoluta. Essa presença da vida inteira que não sabemos se é o inferno se é o paraíso. Depende do que tivermos inscrito na nossa carne, no nosso corpo, na nossa indissolúvel individualidade. Sem desculpas.</div>
</div>
</div>
João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-39488237467954203242013-01-12T10:54:00.000+00:002013-01-13T15:59:19.451+00:00Registo de Cinema XXI, Amour de Michael Haneke , 2012<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:DocumentProperties>
<o:Template>Normal.dotm</o:Template>
<o:Revision>0</o:Revision>
<o:TotalTime>0</o:TotalTime>
<o:Pages>1</o:Pages>
<o:Words>658</o:Words>
<o:Characters>3755</o:Characters>
<o:Company>Promontório Arquitectos</o:Company>
<o:Lines>31</o:Lines>
<o:Paragraphs>7</o:Paragraphs>
<o:CharactersWithSpaces>4611</o:CharactersWithSpaces>
<o:Version>12.0</o:Version>
</o:DocumentProperties>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves>false</w:TrackMoves>
<w:TrackFormatting/>
<w:PunctuationKerning/>
<w:DrawingGridHorizontalSpacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing>
<w:DrawingGridVerticalSpacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing>
<w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery>
<w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:DontAutofitConstrainedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
</w:Compatibility>
</w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="276">
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]-->
<!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Table Normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Times New Roman";
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ubzkL7AceC4/UPFArzpxq0I/AAAAAAAAAPw/Dq7XcCfd-P0/s1600/Amour-008.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="http://1.bp.blogspot.com/-ubzkL7AceC4/UPFArzpxq0I/AAAAAAAAAPw/Dq7XcCfd-P0/s320/Amour-008.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há dias perguntava-me um jovem como é que se descobre um
amor para a vida, como é que se sabe? Olhei-o e disse-lhe a verdade: não se
sabe!, mas acrescentei, pode acontecer..., pode acontecer que coincidam, no tempo
e no espaço, duas pessoas que, perante a esperança que a outra lhe abriu na
alma, queiram fazer perdurar para sempre esse sentimento iluminador e não
deixem que nada, alguma vez, se interponha entre elas, nenhum
sentimento, nenhum pensamento, e nenhuma ilusão faça fraquejar esse desejo comum de resistir para sempre à dissolução, à corrupção, à <i>insignificação</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como fazer isso? – perguntou-me. Disse-lhe: olhar para o
outro com a mesma admiração e respeito com que se olharam da primeira vez. Manter aberta a mesma expectativa. Num
certo sentido, manter a mesma cerimónia, não como quem se engana num registo falso e desapaixonado
de relação, mas como quem espera sempre, como quem ouve, não tem pressa e
dá sempre a vez. E porque fazê-lo?, porque, se preservar esse primeiro
sentimento irrepetível, esse momento de esperança, não terá de o procurar em mais lado nenhum, porque o
relâmpago é sempre o mesmo. E o que importa é o que se faz com ele e não
repeti-lo ou macaqueá-lo até à exaustão, até já não se saber do que é que se está realmente à procura.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vinha a conversa a propósito do filme de Michael Haneke – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Amour</i> – em que um casal Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean Louis Trintignant) vive os últimos dias das suas vidas na intimidade e
no respeito do outro, sem que alguma<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>mínima brecha se abra perante as dificuldades da corrupção final do corpo que nesses dias perturbam a alma e a claridade de outros tempos. É como se vive a vida do Amor numa idade avançada, e, pergunto-me: – Não é nessa idade
avançada que a expressão da sua longa preparação se revela mais exultante? Não
é aí que o Amor e a Sabedoria se entrelaçam e exprimem, se longamente preparados? Veja-se a forma e o
desenlace do processo amoroso<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e
conclui-se que não há forma nem lógicas sociais entre os amantes, bons sensos, nem conselhos exteriores, mas apenas a
liberdade absoluta do seu Amor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os diálogos que desenvolvem, são diálogos de velhos
conhecidos, mas são diálogos que mantêm a distância que permite o jogo do que
se mostra e do se esconde, que permite o silêncio, mas também o atrevimento,
que permite e expressa a opinião mas aceita a contradição, sem falsos pudores
nem falsas indignações. Conversam observando, arriscando, brincando mas, ao
mesmo tempo aceitando, apreciando, amando. Conversam como quem ainda tem coisas
a dizer sobre o outro que ainda não teriam sido ditas, como se ainda tivessem
coisas para revelar e porquê?, porque a vida interior de cada um não se apagou, nunca se apagou e mantém, ainda e sempre, uma
pulsão, um vigor, uma actividade renovada que o outro percebe e inquire, procura descobrir, interroga e partilha.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por isso, disse ao jovem com quem falava: o segredo do
Amor?, manter o pudor e a distância, prolongar infinitamente aquele momento
inicial como o maior tesouro que se pode guardar, e desfrutar dos seus
rebentos. E se bem pensarmos, o Amor e a Morte estão mais fundidos do que a
vida nos parece fazer querer. O filme de Michael Haneke tem essa virtude.
Mostra como o Amor e a Morte andam de braço dado nas vidas que têm a dimensão
humana e não se reduzem a um coleccionar de futilidades, pequenos prazeres e
excitações juvenis.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A Morte é um momento final, seja ou não de passagem. O Amor
é o condutor de toda a procura da verdade, porque é a procura vivida e
experienciada. Sem o outro que no Amor se procura, e encontra (quando encontra), a vida é uma
espécie de ramo seco. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Amor e Morte não andam sempre ligados pelas mesmas razões.
A melhor razão é aquela em que o Amor liberta da Morte e em que, simetricamente,
a Morte é libertadora. E poderá ser assim, sem ser mórbido, lúgubre, nem
penoso...? essa a beleza do filme de Michael Haneke.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Michael Haneke não trata o Amor como essa palavra gasta, profanada, usada indevidamente para mascarar as ilusões sem perder a
dignidade, ainda que se perca. Nem como essa muleta deturpada com que se pretende
legitimar por fora, exteriormente, aquilo que exige um mergulhar na provação profunda de
vislumbrar a morte, de a entrever sem ser como um fatalismo da existência
natural, mas como um símbolo do que há-de dar sentido, significado e redenção
às nossas vidas. Michael Haneke trata o Amor como aquele que não se diz mas
também não se reduz a um sentimento indizível ou apenas não dito, trata o Amor
como aquilo que se liberta do tempo, do tempo em que a Morte impera, e perdura confiante
e sereno sem nunca se turvar. Trata-o, por isso, na velhice para nos mostrar
como Amor, Sabedoria e Morte se entrelaçam.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Bem diferente de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Um
Amor de Juventude</i> de Mia Hansen-Løve onde um forma de Amor juvenil e
permanentemente hiperbólico, inseguro e absorvente conduzia, ainda que com
indiscutível beleza, a sucessivos insucessos. Mas aí devido à falta de
omnisciência dos amantes. Mas aí era o amor juvenil que se recusava a crescer. A possibilidade da comparação dos assuntos das duas obras pode ser muito revelador.</div>
<!--EndFragment-->João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0Lisboa, Portugal38.7252993 -9.150036399999976338.6262218 -9.3113978999999762 38.8243768 -8.9886748999999764tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-81298517306718153192012-07-10T20:05:00.000+01:002012-07-10T20:08:49.521+01:00Morte: nós e os outros<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Nwr8pzLRhQM/T_x8tDY3Z0I/AAAAAAAAAPc/MDyJCpBd5wE/s1600/o-setimo-selo_a-danca-da-morte.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="237" src="http://4.bp.blogspot.com/-Nwr8pzLRhQM/T_x8tDY3Z0I/AAAAAAAAAPc/MDyJCpBd5wE/s320/o-setimo-selo_a-danca-da-morte.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">Um estranho sentimento acode-nos perante a morte
de alguém querido: para onde tenha ido esperará por nós. Foi apenas primeiro ou
antes. Assim, parece. Perante a morte de alguém que fazia parte do nosso mundo,
do rosário das nossas contas, que sabíamos ir encontrar a qualquer momento por
muito tempo que já tivesse passado desde o último encontro, o seu tempo passou,
quer dizer, deixou de estar nas malhas do tempo, conquistou a eternidade, onde,
sem tempo, nos há-de ver como nós não nos conseguiremos jamais ver porque não
nos concebemos fora do tempo onde a nossa essência habita, onde nós habitamos, mesmo não o sabendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">Outra ocorrência, é a perspectiva de que esse que
parte nos deixa a nós para se encontrar com aqueles que também já fizeram parte
do seu e do nosso mundo, aqui, e que já partiram. Com amigos cá e lá o nosso
coração hesita. Sempre a vida terrena é preferida, aparentemente e pela
maioria, à vida eterna da qual apenas se pode esperar: nos transcenda,
transborde e surpreenda. A partir da nossa forma e modo de pensar é
inimaginável. Porém, todos partimos e, por isso, não valem a pena pesadas
manifestações que protestem contra essa realidade. Melhor é aceitá-la com as
forças que encontrarmos. A morte não é estúpida nem deixa de ser. É a garantia
da vida e da sua renovação. A morte é como o nascimento. Um momento da passagem
pela existência. É o último. Mas é o que se dá numa passagem da consciência
actual de que a morte existe e de que a vida tem um sentido e uma realização,
íntima e intransmissível, para uma plenitude ou um absoluto de que o pensamento
humano dá notícia embora não possa desocultar. Pois se pudesse, já estaria
nessa dimensão de que está separado por uma condição, uma contingência e uma
limitação de que não conhece a razão. Diríamos que o mal é um mistério de que a
bondade, a beleza e a verdade são a luz da redenção. O nosso coração, a nossa
razão e a nossa imaginação nutrem-se do que reduz a acção do mal. O mal,
episódico e evanescente, é apenas uma acção temporária, diria instantânea, de
afastamento do bem, do belo e da verdade. Mas a bondade, a beleza e a verdade
não nos permitem senão prepararmo-nos para a passagem de que a morte é o
instante irrevogável.</span>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-76974737112485249522012-07-09T12:13:00.001+01:002012-07-09T12:19:15.488+01:00Registos de Cinema XX, Les Neiges du Kilimandjaro de Robert Guédiguian, 2011<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-JNK2uVYEKJk/T_q83l6WvLI/AAAAAAAAAPM/FQ904dO1U10/s1600/les-neiges-du-kilimandjaro_20111117_121110_bigintro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="96" src="http://3.bp.blogspot.com/-JNK2uVYEKJk/T_q83l6WvLI/AAAAAAAAAPM/FQ904dO1U10/s320/les-neiges-du-kilimandjaro_20111117_121110_bigintro.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt;">Podia chamar-se <i>A sabedoria das boas almas</i>, mas Robert Guédiguian optou por lhe dar
o título homónimo da obra de Ernest Hemingway que Henry King adaptou ao cinema com
Gregory Peck e Ava Gardner nos protagonistas. O equívoco não deixa de causar
estranheza mas aparentemente é apenas uma provocação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt;">A sabedoria das boas almas é a sabedoria dos que
sabem esperar, dos que olham, dos que respeitam intrinsecamente o outro, todo o
outro, tudo o que é outro. Dos que sabem que o outro é o mesmo, o próprio, e
tudo o que é em função do outro fica no mesmo, no próprio. De onde respeitar os
outros é respeitar-se também a si mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt;">O filme não pretende dizer que o homem é bom ou
mau. Mas também não pretende reduzir as acções de cada um à circunstância e à
contingência do meio ou da sociedade. Habita as personagens a liberdade de
optar pelo modo como se pretendem realizar como seres humanos. E apesar de
podermos entender as razões de cada um, também percebemos que aquilo que
fazemos é uma decisão nossa e não um fatalismo ditado por condições exteriores,
ou quando são porque a pressão existe, a vulnerabilidade é nossa e de mais
ninguém. Mas assim sendo, cada um é perdoado, ou não, pela capacidade de
perdoar de cada um. O estado, a lei, condena, cega como toda a justiça; mas o
indivíduo perdoa, compensa, ajuda: ama.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt;">É disso que trata o filme: a liberdade e o perdão
como temas que carecem de uma iniciação interior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt;"> Trata a liberdade interior, como libertação como iniciação na
liberdade que cada um não pode possuir, cingir ou limitar ao seu eu, ao contrário
do livre arbítrio que, como vontade e até como reivindicação, é todo ele
concentrado nos limites do eu, do indivíduo separado dos outros, a não ser que
se adune à Liberdade, ao princípio da Liberdade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt;">É da noção de liberdade como libertação que
surge o perdão como compreensão de que o outro, como o próprio, erra e esse
erro não é definitivo nem trágico, mas parte de um processo que por vezes não
se pode evitar mas no qual não se quer permanecer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 11pt;">Os conflitos abertos pelo percurso de diferentes
personalidades mostra as diferentes atitudes, as diferentes reacções, as
perspectivas abrangentes do todo e as perspectivas unilaterais e delas conclui
que a felicidade está na visão que é profundamente comprometida e persistente,
quase obsessiva, mas simultaneamente desapegada, aparentemente distante ou
apenas não intrusiva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 11pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O filme explora estes conflitos e escolhe o ambiente
sindical de que a personagem principal é uma figura destacada para acentuar os
contrastes do gregarismo da militância e da afirmação individual, ou talvez
sublinhar que mesmo a militância só se justifica pelo lado ideal, pelo lado que
integra, engloba e acolhe todos numa mesma visão de princípios. A esse propósito
Michel (Jean-Pierre Darroussin) cita Jean Jaurès e o idealismo revolucionário e
a necessidade de fidelidade aos ideais. Por muito ingénuos que possam ser esses
ideais é a intenção do ideal sem maldade que nos diz que a alma é boa e o erro
em que possa incorrer o corrigirá quando dele tiver consciência.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';"><o:p></o:p></span></span></div>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-999414305318501852012-04-30T02:35:00.002+01:002012-04-30T09:25:00.339+01:00Registos de Cinema XIX, Terraferma de Emanuele Crialese, 2011<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-gqTuUxSIuh4/T53sW2ijYkI/AAAAAAAAAO8/GNbAFUmnJAM/s1600/Terraferma.avi_snapshot_00.17.26_%5B2012.01.20_15.44.47%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="135" src="http://3.bp.blogspot.com/-gqTuUxSIuh4/T53sW2ijYkI/AAAAAAAAAO8/GNbAFUmnJAM/s320/Terraferma.avi_snapshot_00.17.26_%5B2012.01.20_15.44.47%5D.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Turistas e imigrantes
encontram-se numa ilha. Por razões diferentes. Os primeiros chegam em segurança
e vão para se divertirem; os segundos chegam no limite da sobrevivência em fuga
à miséria e à guerra. Os primeiros enchem a ilha e transformam o espaço público
e a economia. Os segundos escondem-se na ilha mas transformam e expõem o
carácter dos seus habitantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">A comunidade autóctone deixa
de depender da actividade primária, a pesca, para investir numa actividade
terciária, ou seja industrial: o turismo. A transformação troca no essencial,
produção por serviços. A geração de riqueza passa a estar toda na paisagem
natural e nos serviços que os locais podem prestar aos turistas. De certa forma
perdem a sua autonomia e auto-suficiência, ou antes, a sua coesão comunitária.
Uma comunidade habituada a alimentar-se e a passar de geração em geração o saber
correspondente ao seu mester passa a receber de fora as tendências do que deve
vender, passa a vender a sua própria casa, o seu tempo e a correr o risco de
surgirem, com a consolidação da actividade turística, forasteiros que venham
tomar conta do negócio e a breve prazo até expulsá-los (pagando bem) do seu lugar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Perante a chegada de
imigrantes do norte de África, a comunidade tende a impor as suas leis, que são
as leis do mar, do socorro ao próximo e da partilha do pão. Porém, a ilha faz
parte de um território nacional cujas leis são impiedosas com a imigração
clandestina e, por isso, as suas leis são subjugadas pelas leis do Estado. O
conflito entre a tradição e a consciência formada por essa tradição e o Estado
e a obrigatoriedade do cumprimento da lei sob pena de sofrer consequências,
levou à desobediência de uns e à cedência às conveniências de outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><i>Terraferma</i> é terra firme para
os imigrantes que ali voltam a contactar com a realidade palpável, segura,
firme. Para os habitantes da ilha é o seu porto seguro no meio do mar. Para os
turistas é um lugar de lazer, para sair do tempo e do espaço convencionais e
habitarem uma terra firme mas irreal durante umas semanas. Também poderíamos
chamar-lhe terra fechada, enclausurada, isolada, perdida do tempo e do espaço,
perdida do mundo, um lugar onde se nasce e se morre sem se ter chegado a
contactar com a realidade exterior. Um lapso de tempo, um lugar irreal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Ainda assim, a presença
humana transforma a vida natural numa vida mental, espiritual. Numa comunidade
como a daquela ilha, os problemas humanos são observados e vividos à luz de
princípios. Os princípios implicam uma prática, não se ficando pela indiferença
e pelo passar ao lado como se fossem problemas que não nos dizem respeito. Mas
também, perante a possibilidade de tirar partido da situação e já com o
aviltamento que o dinheiro trás a quem não vive os princípios, logo se cindiu a
comunidade entre os que querem o progresso e o turismo e entregam ou não salvam
os imigrantes à deriva e os que querem continuar a viver do mar e recusam os
horizontes do progresso mas correm todos os riscos na coerência da sua ética e
salvam e escondem os imigrantes clandestinos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">É certo que pouco se consegue
em ser contra o tempo e as suas tendências. A maioria é sempre gregária,
cobarde e sem alma. Os que resistem individualmente são os heróis que estes
tempos abominam. Mas nessa heroicidade está aquilo que resta da nossa
humanidade. Por muito ineficiente que seja.</span>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-22030672755878639532012-04-30T01:02:00.004+01:002012-04-30T01:05:13.533+01:00Registos de Cinema XVIII, The Best Exotic Marigold Hotel de John Madden, 2011<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-k-0RhcHRp94/T53UAnxEIEI/AAAAAAAAAOs/AfMw6L7ce9M/s1600/marigold+hotel.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="http://1.bp.blogspot.com/-k-0RhcHRp94/T53UAnxEIEI/AAAAAAAAAOs/AfMw6L7ce9M/s320/marigold+hotel.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Por qualquer razão que deve fazer parte da natureza humana,
sempre se disse, mais ou menos isto: um dia parto para uma ilha e deixo-me lá
ficar. O sentimento de evasão de um mundo a que já não sentimos pertencer, ou a
necessidade de procurar um lugar onde nos encontremos connosco próprios,
alimenta a ideia de uma viagem transfiguradora. A ideia de recomeçar, de apagar
o passado e recomeçar tudo de novo, carece de um novo lugar, de uma nova
comunidade, ou até de um certo anonimato.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Best Exotic
Marigold Hotel for the Elderly and Beautiful</i> em Jaipur na Índia surgiu a um grupo
de reformados ingleses com diferentes histórias e por diferentes razões, como um
lugar de sonho onde podiam evadir-se uns
temporariamente, outros definitivamente. Imaginar uma viagem, é imaginar um ideal, talvez um paraíso. Um sentimento interior de esperança cresce, e as palavras fazem nascer
o sonho. Quem não quereria ir para um lugar chamado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Best Exotic Marigold Hotel</i>?, ainda por cima depois de ver
imagens melhoradas em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">photoshop</i> por
um jovem sonhador que, no trilho do pai, pretende fazer renascer uma glória, que
já no passado era só um desejo nunca realizado, um exótico e acolhedor hotel?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Esclarecendo: Sonny (Dev Patel) vive e é co-proprietário com
a mãe e os dois irmãos de um antigo hotel que depois da morte do pai entrou num
lento processo de ruína. Sonny decidiu promove-lo como destino turístico para a
terceira idade e publicou fotografias melhoradas em computador do que iria ser
o que vendia como já sendo. Pretendia, assim, ir fazendo a renovação do hotel
com as próprias receitas geradas pelos hóspedes e com o processo a correr,
então, tentar um financiamento para as obras de fundo. Os hóspedes chegam e
deparam-se com um cenário oposto às suas expectativas e cada um à sua maneira
foi rejeitando e integrando-se naquele dia a dia em que o jovem Sonny os
procurava envolver e fazer sonhar apesar das evidências: sujidade, mau estado,
comunicações cortadas, refeições péssimas, etc...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Cada um acabou por ir-se adaptando e procurando motivos para
ali permanecer criando laços com a cidade, com as pessoas, com os ambientes e,
de algum modo, realizando as expectativas que tinham criado antes da decepção
da realidade lhes cair à frente.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Não obstante o carácter comercial do filme há uma densidade
nalgumas personagens que, ao contrário de outras, é de assinalar. O que faz
correr cada uma delas, porém? O filme é sobre a velhice e a solidão. Mas uma
velhice e uma solidão à procura de uma centelha que reacenda a esperança em vez
de apenas de deixarem mergulhar no desespero e desistirem. Apesar de se passar
no verão indiano, o filme é sobre
o Outono ou, como lhe chamou José Régio: a colheita da tarde. As cores são quentes
e tardias. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">De que vivem os mais velhos: da esperança de não terem
perdido totalmente uma juventude que não se lembram do dia em que partiu; das
memórias do tempo que se foi mais as pessoas que foram com ele; das alegrias e
das frustrações sem remédio e sem regresso; de uma certa persistência da fé que
nunca perderam em algo de fundamental das suas vidas; da sensação do que
perderam mas permanece vivo neles; e da resistência que sabem poder manter
contra a crueldade silenciosa do tempo que passa irremediavelmente.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">A perspectiva de que o tempo passa e nos faz passar também,
impõe decisões antes que seja tarde demais. É essa urgência que se torna
evidente nas personagens de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Best
Exotic</i>, cada uma procurando realizar algum objectivo antes que a morte lhe bata
à porta. Tudo se passando sem correrias, sem atropelos, num misto de cinismo e
objectividade, ou se quisermos de humor e lógica tão de sabor britânico. O
humor está na capacidade de se exporem sem se imporem e sem moralizarem; a
racionalidade está forma como conduzem os seus passos não obstante aceitarem o
destino. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Há uma força interior em cada personagem, e na sua
obstinação tranquila, que faz do que poderia ser mais detestável no carácter,
um tropo compreensível. E essa força interior é também musculada pela urgência
de viver o que há ainda para viver. Há um ditado que procura dar o mote da
obra: <span class="Apple-style-span" style="color: #222222; line-height: 16px;">“</span><span class="Apple-style-span" style="color: #222222; line-height: 16px;"><em style="color: black; font-style: normal;">Everything</em></span><span class="Apple-style-span" style="color: #222222; line-height: 16px;"> will be alright in the </span><span class="Apple-style-span" style="color: #222222; line-height: 16px;"><em style="color: black; font-style: normal;">end</em></span><span class="Apple-style-span" style="color: #222222; line-height: 16px;">, or it's not the </span><span class="Apple-style-span" style="color: #222222; line-height: 16px;"><em style="color: black; font-style: normal;">end</em></span><span class="Apple-style-span" style="color: #222222; line-height: 16px;"> yet.”</span></span></div>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-49917041405099890432012-04-24T10:11:00.003+01:002012-04-24T10:12:09.222+01:00Um Pátio em Florença<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-JldO-tEqS7U/T5ZuOvRjIzI/AAAAAAAAAOg/XEYF35cgbwA/s1600/P2060249.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://4.bp.blogspot.com/-JldO-tEqS7U/T5ZuOvRjIzI/AAAAAAAAAOg/XEYF35cgbwA/s400/P2060249.JPG" width="400" /></a></div>
<br />João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-65310517008496475202012-04-23T10:50:00.001+01:002012-04-23T10:50:29.953+01:00Nos Jardins do Louvre<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-uD5MZjALciE/T5UlYLUYsaI/AAAAAAAAAOY/6vMJEKdlNqY/s1600/L1000539.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://3.bp.blogspot.com/-uD5MZjALciE/T5UlYLUYsaI/AAAAAAAAAOY/6vMJEKdlNqY/s400/L1000539.JPG" width="400" /></a></div>
<br />João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-16724231779881261922012-04-15T12:05:00.003+01:002012-04-22T00:24:39.187+01:00Registos de Exposições II, BES Photo 2012, Cia de Foto, Duarte Amaral Neto, Mauro Pinto, Rosângela Rennó, CCB 2012<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">Quatro
possibilidades de registo, outros tantos conceitos de fotografia. Como arte?<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-wASRYAFbYPc/T4qqEFpBGsI/AAAAAAAAAN4/9I8MpFqa85I/s1600/BES.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-wASRYAFbYPc/T4qqEFpBGsI/AAAAAAAAAN4/9I8MpFqa85I/s320/BES.jpg" width="211" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">1.
Duarte Amaral Neto (Lisboa) apresenta um trabalho de re-fotografia onde induz
uma narrativa a partir de palavras chave que redireccionam a mente para um
contexto conhecido, a 2.ª Guerra Mundial, a partir de despojos de um acervo de
um familiar datados do princípios dos anos 30. Pela alteração da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">legenda</i> toda a infidelidade potencial do
registo fotográfico se revela. A grande qualidade da verosimilhança desfaz-se
com este exercício de manipulação que demonstra que a fotografia é impossível como
garantia de narrativa do real enquanto facto. A fotografia será sempre parcial
e manipuladora e as suas seduções são a sedução enganadora do lado bom que
esconde o mau ou do mau que se esconde no bom.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">Ao
acervo fotográfico acrescentam-se a exposição de objectos envelhecidos que não
são fotografados e, por isso, complementam com dados corpóreos a dimensão do
tempo que passou concluindo assim a encenação da história e a indução da
mentira no carácter memorialista, de registo documental que se presume sério e
científico. Mas a mentira não nega a arte, muito até pelo contrário como
explicou Óscar Wilde em “O declínio da Mentira”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">Por
isso, abre uma discussão sobre o valor artístico da fotografia já que a mentira
tem o seu préstimo na arte enquanto ideia de ilusão ou, pelo menos, de não
factualidade. Se pela técnica implícita a fotografia, como o cinema, é sempre
registo e, por sua natureza, forma documental, a questão está em saber se a
ficção do que se supõe factual e a possibilidade de enganar por indução e
sugestão, são suficientes para tirar a fotografia do domínio da verosimilhança?,
ou, dito de outra forma, se a memória na fotografia é <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mimesis</i>?</span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;"><br /></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-qKjIqbpGMLo/T4qrO38wk5I/AAAAAAAAAOI/Ii0avTUGJQE/s1600/agora_007.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="160" src="http://4.bp.blogspot.com/-qKjIqbpGMLo/T4qrO38wk5I/AAAAAAAAAOI/Ii0avTUGJQE/s320/agora_007.jpg" width="320" /></a></div>
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 13px;"><br /></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 13px;">2.
Cia de Foto (São Paulo) grupo brasileiro com preocupações teóricas e que
pretende dar respostas concretas, ou seja: dizer o que é a fotografia. E isso é
o que está entre dois tópicos: o escuro e o estático. O escuro como recusa da
luz ou o recurso à luz mínima (mesmo que manipulada) que permita a eclosão da
superfície; e o estático como impossibilidade em si mesmo já que tudo está num
devir.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">A
ideia de apresentar o contrário da fotografia mas não deixando de recorrer ao
que é, porque tem de ser, a fotografia. Nem toda a interrogação da arte conduz
à arte em si. O que é interrogar a fotografia se nessa interrogação ela é o que
queria negar, ou seja, para quê recusar a luz e a instantaneidade se é isso que
minimamente tem de acontecer para que a fotografia aconteça e tentar fazer dos
limites disso uma teoria sobre a fotografia afirmando que é o que não é?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">Por
fim, há o que a fotografia é, o instantâneo, o que se capta, unilateralmente é
certo, mas o que se capta com precisão com rapto, com oportunidade. A longa
preparação de palcos e luzes poderá ter um efeito cénico de grande beleza
gráfica e até pictórica, mas será isso a fotografia?<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-95L9Fer-cXs/T4qotkANB2I/AAAAAAAAANo/GA45sElolCU/s1600/D%E2%80%A0_Licena%CC%81a_9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="http://2.bp.blogspot.com/-95L9Fer-cXs/T4qotkANB2I/AAAAAAAAANo/GA45sElolCU/s320/D%E2%80%A0_Licena%CC%81a_9.jpg" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">3.
Mauro Pinto (Maputo), jovem fotógrafo moçambicano, apresenta uma série de
fotografias intitulada: “Dá licença”. O fotógrafo capta o momento, a
permanência de espaços domésticos abandonados, mas a que a cor, a disposição
dos móveis, as texturas e a profundidade de campo, dão uma presença impressiva
e quase pulsante. De todos os trabalhos é talvez aquele que fica mais fiel ao
objecto da fotografia. O registo de uma realidade tal qual ela se apresenta e
retirando dela todo o seu potencial expressivo. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dá licença</i> é uma intromissão na intimidade de um lar, ou de vários,
e por isso se pede licença, para precisamente poder permanecer sem ser intruso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">Curiosamente,
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dá licença</i> não se reduz à boa
educação de pedir licença à família, no caso vertente, da suposta família que
habita ou habitou o espaço a fotografar. A família já não habita. Então Mauro
Pinto pede licença a quem? O oficio de fotógrafo impõe-lhe, talvez, essa ética que
a fotografia, essa janela indiscreta, esse olho que regista maquinal e
amoralmente o que deve e o que não deve registar, precisa de respeitar. Uma
moral que lhe dê cidadania, porque a realidade não está aí para ser violentada
mas para ser respeitada. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dá licença</i> é,
sobretudo, uma forma de consciência de que a máquina que apenas dispara precisa
de conter o ímpeto, a vontade e a legitimidade do atirador, não pode estar
descomprometida dos outros e da sua legítima privacidade, nem da própria
realidade enquanto expectativa de que todos partilhamos. No “Blow up” de M.
Antonioni mostra-se bem essa natureza intrusiva e inconfidente da fotografia: o
inocente registo fotográfico de um jardim vem a revelar um crime passional,
privado e secreto. Antonioni quis aqui, na nossa perspectiva, mostrar como a
fotografia por um lado actua sem moral e sem preconceitos mas por outro invade o
domínio do secreto ou do privado que se esconde tanto da luz imediata e
meridiana como na luz baça e enevoada.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-VpaAFVqgiL4/T4qo9MfBOdI/AAAAAAAAANw/V88FSBBLMHc/s1600/Tropical_II.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-VpaAFVqgiL4/T4qo9MfBOdI/AAAAAAAAANw/V88FSBBLMHc/s320/Tropical_II.jpg" width="232" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">4.
Rosangela Rennó (Rio de Janeiro), apresenta um conjunto de paisagens sob o
título Lanterna Mágica, em que o centro ou uma grande porção central da
fotografia está queimada, por efeito de uma sobre exposição do negativo mesmo
antes da revelação manual da fotografia. Um processo oposto decorre quando o
mesmo negativo é projectado por
projectores dos finais do século XIX e princípios do século XX onde pormenores
da zona sobre-exposta podem ser observados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">O
trabalho de Rosângela Rennó é, sobretudo, uma investigação sobre as técnicas e
os processos da fotografia mantendo uma estreita conexão com uma investigação
filosófica sobre o lugar da fotografia no panorama do conhecimento e das artes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">Neste
tipo de discurso, fica-se sempre com um certo sabor a pouco, uma vez que o que
se espera dos artistas é que resolvam os problemas da arte que querem expor e
não transportem para o público a sensação da insolubilidade das questões
trazidas à partilha com quem não as pode resolver. Fica-se com a sensação que
se tratam de falsas questões e cuja promoção deixam a arte num impasse porque
nem estes resolvem nem deixam outros, talvez, resolver. A não ser que mudem de problemática
e abandonem os caminhos que levam a nenhures.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-9OWPt-gc29E/T4qqtiVDRGI/AAAAAAAAAOA/wMtWyGiDxaQ/s1600/Blow-Up2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="http://4.bp.blogspot.com/-9OWPt-gc29E/T4qqtiVDRGI/AAAAAAAAAOA/wMtWyGiDxaQ/s320/Blow-Up2.jpg" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">5.
O que é a fotografia? Esta a resposta que cada fotógrafo deveria procurar dar.
Toda a obra de arte nas suas diferentes formas e realizações tem implícita a
resposta a esta questão. Não querer responder não quer dizer que não se está a
responder. Cada um dá a resposta que pode e sabe e cada outro compreende-a ou
não. Mas, na verdade, o espelho da arte, é o espelho de nós próprios e sem
querer responder, enquanto artista ou como tal assumido, cada um deles
responde. Pode a resposta não ser satisfatória, pode não agradar, pode ser má e
superficial, mas é a resposta que é dada. Outras serão melhores, mais profundas
e mais absolutas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">Arte
que não interrogue os seus princípios não é arte. Pode a fotografia almejar um
sistema de princípios que se interroguem, e da multiplicidade de aproximações à
fotografia encontrar uma redução que albergue uma teoria da fotografia? É a
fotografia uma arte apenas porque representa uma experimentação que se baseia
na subjectividade de cada um?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;">Qual
a musa da fotografia?<o:p></o:p></span></div>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-65381057135346661132012-04-07T17:23:00.001+01:002012-04-09T23:34:19.489+01:00Registos de Cinema XVII, Tabu de Miguel Gomes, 2012<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-ocIi492MRac/T4Bp6f_582I/AAAAAAAAAMo/rjxmb6QWFBw/s1600/TABU_GOMES_4.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="210" src="http://2.bp.blogspot.com/-ocIi492MRac/T4Bp6f_582I/AAAAAAAAAMo/rjxmb6QWFBw/s320/TABU_GOMES_4.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman';">1. Monte Tabu<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Como
o Paraíso, também não sabemos onde seja o Monte Tabu. O Paraíso é a idade de
ouro, os melhores anos das nossas vidas, o tempo dos sonhos vividos: o tempo
antes de haver tempo. O Paraíso Perdido é a idade das sombras, o tempo de penúria
e o tempo de castigo pelo mal que fizemos, que deixámos fazer ou que não
evitamos que se fizesse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">O
filme é um regresso ao passado, a procura de apaziguar os sobressaltos de uma
vida que se sente em dívida com os outros e consigo mesma. A procura de fazer
as pazes, ou simplesmente, não deixar que tudo fique ignorado para sempre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Poder-se-ia
ter chamado ao primeiro capítulo Purgatório e ao segundo Do
Paraíso ao Inferno, ou mesmo, Expulsão do Paraíso, pois, afinal, a convicção
geral das personagens é religiosa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">O
filme recusa o real sem ideal, não quer ser verosímil, quer invocar, narrar,
encantar. Procura a beleza da criação artística e não a realidade tal qual é vivida. As
suas personagens vivem mergulhadas numa ficção que é mais autêntica que
qualquer comprovada ou factual realidade. Não vivemos todos numa ficção, que é
a recriação das nossas vidas sonhadas? Por isso, um filme e uma música comovem
Pilar (Teresa Madruga) que vive sozinha, recusando a intimidade com Luís, um
pintor triste e velho, que a admira e pinta para ela, mas de quem ela nada mais
quer senão a companhia para ir ao cinema.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman';">2. Sinopse<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman';">Prólogo<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Um
explorador intrépido e decidido aventura-se pelo mato da savana de Moçambique.
É um amante desesperado que corre para a morte e nada podendo fazer para
recuperar a sua amante, se entrega a um crocodilo para ser devorado sob o olhar
da amante defunta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman';">Parte I – Paraíso
Perdido<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Pilar
vive em cuidados com a vizinha Aurora (Laura Soveral), uma mulher velha e rica,
viciada em jogo de casino, que vive sozinha com a empregada, Santa (Isabel
Cardozo), que acusa de lhe fazer macumbas e a prender em casa, e que raramente
recebe visitas da única filha que tem, mas vive no Canadá e pouca atenção e carinho
lhe presta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">A
morte de Aurora é antecedida de um último de desejo de falar com Ventura
(Henrique Espírito Santo) que Santa lê na mão de Aurora. Após o enterro de
Aurora, Pilar, acompanhada de Ventura ouve, num centro comercial, a história
escondida, silenciada e reveladora do pesadelo e da loucura de Aurora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman';">Parte II – Paraíso<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Aurora </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">(Ana Moreira),</span><span style="font-family: 'Times New Roman';"> filha de um colono vive uma fazenda em Moçambique e é uma infalível
caçadora. O marido (Ivo Müller), trabalhava grandes extensões de cultura de chá
e ausentava-se amiúde. Aurora</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';"> vivia num paraíso rodeada de empregados e de
entretenimentos ociosos. Porém, a sua natureza bipolar foi-se revelando e
uma inquietação nervosa estampava-se-lhe no rosto. É então, nessa
fase, que surge Gianluca Ventura (Carloto Cotta) com outros amigos e que por
ali trabalham e formam uma banda de música.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">A
tensão entre Aurora e Gianluca vai-se acentuando, e ambos acabam por propiciar
encontros amorosos que ambos consideram criminosos pelo facto de Aurora estar
grávida e aquela relação não ter futuro, além de estarem a enganar quem lhes
merecia toda a confiança. Até à separação definitiva, depois de descobertos,
ocorreram peripécias várias entre elas uma longa separação poderia ter deixado
tudo no segredo mas o regresso de Gianluca tudo precipitou e conduziu à
tragédia e à vergonha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman';">3. Da história<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Histórias
antigas que ensombram as vidas actuais . Histórias que se agigantam
com a distância do tempo e do espaço e fazem de pessoas comuns personagens
épicas, aquelas a quem estão reservados os grandes feitos e os grandes pecados.
Personagens que, apesar da inquietude, parecem </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">agora </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">repousar em águas tranquilas, águas que se conhecem e não fariam suspeitar daquilo que fizeram, aquilo que nos espanta e, mais grave, nos
escandaliza. E depois, quando olhamos para essas personagens não conseguimos
conceber como podem elas ter feito o que fizeram, não concebemos que a mesma
pessoa que ali está, tão quieta e tão distante de outras loucuras, tenha sido a que
fez o que fez. Aí, começamos a suspeitar que em cada um de nós pode habitar outro de nós, adormecido ou expectante, e esse outro divide-nos e desencaminha-nos e não mais nos deixará,
não nos devolverá a ingenuidade perdida, essa forma de olhar o mundo e de
acreditar nos outros que uma vez perdida não mais regressará para nos apaziguar
e devolver a esperança, inquinando todo o futuro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Os
erros da juventude pagam-se na velhice. Mas pagam-se porque não nos largam,
porque se tornam parte de nós próprios e quanto mais os abominamos mais eles
são a nossa natureza. Aurora era desde nova um espírito alvoroçado e o seu
permanente nervosismo, e a sua incessante inquietação, denunciavam um
comportamento bipolar preocupante. O isolamento e a solidão fizeram o resto.
Perante a manifestação do olhar de Gianluca Ventura que sobre ela repousava com
insistência acabou um dia por se lhe entregar sem reservas, sem pudor e sem
olhar a outras consequências. O tempero não foi apenas o picante do adultério,
mas sim o facto de Aurora estar grávida, estar no início da gravidez e isso, de
algum modo, condenar qualquer harmonia futura entre eles. Há coisas que pela
destruição que provocam nunca permitirão qualquer reconstrução sólida e
duradoura. Primeiro, porque matam o que está à volta e, depois, porque torna os
amantes reféns um do outro pelo bem e pelo mal que se fizeram, e porque a sua
intimidade é o seu segredo e nada o pode apagar ou fazer esquecer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Esta é a história que devoramos ao longo de mais de uma hora depois de termos passado
a primeira hora de volta de um mundo em derrocada, sem esperança, numa Lisboa
moderna triste, desencantada e envelhecida, não só pelas personagens sós, mas
pelo próprio claro escuro do preto e branco com que o autor tinge a tela e que é a
sua visão da velhice ou da corrupção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman';">4. A estrutura narrativa<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">O
filme progride através do diálogo, na primeira parte, onde as personagens vivem
tristemente, com chuva e trovões mais um inverno da vida, já sem qualquer
apego, esperança nem mesmo desejo de viver, arrastando-se todas sem alma numa
assistência mútua e complacente; e, na segunda parte através de uma narração em
voz <i style="mso-bidi-font-style: normal;">off</i> (apenas alterada na leitura
das cartas em que cada um lia a sua), onde a história do passado, a tal idade
de ouro que culminou em tragédia, é contada da mesma forma que as histórias de
encantar são contadas às crianças, nessa idade de ouro que é a da infância e da
ingenuidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">O
filme tem permanentes notas humorísticas. Discretas é certo, mas permanentes. Miguel
Gomes tem esse sentido do sério e do ridículo e a sua pendular variação dá ao
tom grave do filme um contraponto de leveza. Além disso, tem a beleza do preto
e branco e das nuances do preto e branco, tanto no Portugal triste da velhice
de Aurora, Pilar e Santa, como no Portugal alegre e radioso das terras de
África onde Aurora e o marido, e Gianluca e Mário vivem tempos felizes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Disse
Miguel Gomes que não há um tema central e, de facto, há muitas histórias
implícitas ou embutidas, que vão sendo apontadas e esboçadas e, sem juízos
morais nem correcções políticas, fazem do filme uma história de amor e de dor, num ambiente moral próprio e sobre o qual não há sociológicas recriminações. Do
que se trata é de pessoas e das suas paixões, crenças e mitos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman';">5. O crocodilo<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Finalmente,
a figura transversal de toda a trama: o crocodilo. O misterioso crocodilo: o
crocodilo “dandy”, como lhe chamou Aurora. O crocodilo assume um papel
mitológico por assim dizer. Primeiro, porque é a um crocodilo que um amante
desesperado se entrega para ser devorado sob o olhar da amante defunta numa
espécie de prólogo que antecede as duas partes do filme. Segundo, porque o
marido de Aurora lhe oferece um crocodilo bebé no princípio das suas vidas de
casados. Terceiro, porque o crocodilo fugiu e foi Gianluca Ventura que o
encontrou no seu jardim. E, finalmente, porque após uma segunda fuga, Aurora foi
logo procurá-lo ao jardim de Gianluca, decidida a provocar aí o seu primeiro encontro
amoroso e o princípio do idílio e da tragédia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Ora
o crocodilo é um predador e um caçador. Como Aurora. De algum modo, o crocodilo,
na sua quietude, está sempre preparado para um ataque mortífero. Como Aurora. Aurora
chamou-lhe Dandy quando ele fugiu para a casa de Gianluca Ventura. Seria Aurora
também uma <i>dandy</i>, ou estaria apenas
possuída pelo espírito do crocodilo?<u style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></u></span></div>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-32386014756179882212012-04-06T13:41:00.000+01:002012-04-07T20:26:35.364+01:00Registos de Exposições I, Nikias Skapinakis Presente e Passado 2012-1950, CCB, 2012<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-uENmrbjfViQ/T37jo5rb0lI/AAAAAAAAAMQ/FD21MTDqcwA/s1600/Pic-nic+burgue%CC%82s.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="224" src="http://3.bp.blogspot.com/-uENmrbjfViQ/T37jo5rb0lI/AAAAAAAAAMQ/FD21MTDqcwA/s320/Pic-nic+burgue%CC%82s.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">1. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">CCB,
cinco de Abril de dois mil e doze.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Nikias
Skapinakis, muitos anos a ver de longe e hoje a possibilidade de ver de uma vez
mais de cinquenta anos de pinturas e desenhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Numa
primeira percepção, da retrospectiva que o próprio curou e cuidou, a questão
geracional que está na base do seu caminho: a opção pela figura e pelo
figurativo e a recusa do abstracto por moda, ou oportunidade, ou até, como se
sugere, por obediência à crítica. Ficamos, assim, na figura, na figuração e no
figurativo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Numa
segunda percepção, percebemos que toda a pintura de Nikias Skapinakis se contem
na mancha de cor, é a mancha, uniforme e forte que mostra a figura. Uma cor sem
gradações, uma cor de campos preenchidos, firmemente delineados, que de algum
modo antecipa, mas seguramente é contemporânea na Pop Art , movimento que
surgiu em Inglaterra e nos Estados Unidos no final dos anos 50 e que usava a
linguagem gráfica da banda desenhada e dos anúncios na pintura (Roy Lichtenstein
e Andy Wharol, por exemplo).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Numa
terceira percepção, a temática de Nikias Skapinakis. Há uma permanente
encenação ou teatralização na relação entre as figuras quer sejam humanas, animais,
vegetais ou minerais. Os temas de Nikias são clássicos: naturezas mortas,
paisagens naturais, cenas mitológicas com mulheres e animais, tertúlias de
homens e de mulheres.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">2. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">A
singeleza do jogo da linha, diria contorno, e da cor, diria mancha, estabelece uma
teatralidade, ou melhor, uma encenação como pré-teatralidade que relaciona entidades,
as põe em conflito e em harmonia. Essas entidades são-no precisamente para que
se possa estabelecer entre elas conflitos, oposições, continuidades e harmonia.
As entidades são uma espécie de individuação metafórica de corpos minerais ou
vegetais ou animais que se assumem como personagens potenciais na geografia dos
quadros.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">As
posições dos corpos, enquanto disposições da alma, a direcção do olhar,
enquanto ausência de ver físico, o “conflito” das cores, enquanto expressão da
solidão individual, a ausência de fundo onde há pessoas e animais, e a ausência
de pessoas e animais onde há paisagem ou contexto vegetal e mineral, sublinham
o carácter melancólico que o próprio exprimiu verbalmente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Porém,
mais do que melancólico, exprime uma ruptura entre o que se move e o que não se
move. Diríamos entre o humano e o natural, uma vez que o animal pela via
simbólica e cultural da mitologia tratado como qualidade, atributo ou espelho
do humano. A ruptura do humano com o mundo, visto como contexto, cenário ou
palco, é talvez uma das mais evidentes expressões do pessimismo que na obra de
Nikias tem sido considerado melancolia. Ora a melancolia é, ao contrário, o
sentimento de perda de um mundo idílico em que o humano se integrava, por isso,
invoca a harmonia do homem em plena harmonia com o mundo natural. Na obra de
Nikias, esses dois mundos estão irremediavelmente separados. E a tristeza que
se sente, não é melancólica, mas antes sentimento de perda irremediável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">3.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">Três
notas</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-FtKArUwjCTY/T37j7-4cswI/AAAAAAAAAMY/lyx6JI1tkFk/s1600/Botequim:1973.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="304" src="http://2.bp.blogspot.com/-FtKArUwjCTY/T37j7-4cswI/AAAAAAAAAMY/lyx6JI1tkFk/s320/Botequim:1973.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">A primeira sobre as pinturas de tertúlia ou de grupos (de homens ou de
mulheres, curiosamente também nunca se misturam). Em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Botequim</i> (1973) está tragicamente expresso o presságio feminino de que
o mundo que se perdeu, que talvez tenham sido os homens a fazê-lo perder-se.
Três cálices sobre a mesa, três mulheres entreolhando-se, como quem esperam por
alguma coisa sem grande esperança, braços cruzados, pernas cruzadas, repousando
sem sonhar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-bhgn3-Kuxvk/T37kFhQufFI/AAAAAAAAAMg/vQSuGOqv4ck/s1600/Os+jardins+de+Fouquet+II:1986.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-bhgn3-Kuxvk/T37kFhQufFI/AAAAAAAAAMg/vQSuGOqv4ck/s320/Os+jardins+de+Fouquet+II:1986.jpg" width="227" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">A
segunda sobre os desenhos de paisagem sobre papel <i style="mso-bidi-font-style: normal;">craft</i>. Se toda a pintura de Nikias é baseada na mancha – contorno e
cor – já os trabalhos de desenho revelam um traço e uma capacidade de representação de grande profundidade,
mesmo em sentido literal, profundidade de campo, que revela uma dimensão do
olhar que nas manchas sem gradações da pintura ficam por revelar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">A
terceira nota é sobre a singularidade do caminho de Nikias no contexto
português onde o figurativismo reagindo às correntes do abstraccionismo,
recebeu um importante impulso e uma certa legitimação pelos novos caminhos
abertos pela Pop Art norte americana e britânica. Esse impulso, porém, não
conduziu o artista português com origens gregas de permanecer fiel à pintura como
arte distinta da banda desenhada e de outras aproximações mais gráficas e
mundanamente eficientes mas mais irremediavelmente superficiais.<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-69508465249393006262012-04-04T01:06:00.000+01:002012-04-08T21:24:00.792+01:00Registos de Cinema XVI, Un Amour de Jeunesse de Mia Hansen-Løve, 2011<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-WdjyKDkRZMA/T3uQPEuIYKI/AAAAAAAAAMI/OrkWJddgvVk/s1600/Un-amour-de-jeunesse_flash_video_background.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="http://2.bp.blogspot.com/-WdjyKDkRZMA/T3uQPEuIYKI/AAAAAAAAAMI/OrkWJddgvVk/s320/Un-amour-de-jeunesse_flash_video_background.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">1. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">Um
amor de juventude que não se sustenta porque é demasiado absorvente para ser
vivido na adolescência e que, permanecendo absorvente nos primeiros anos da
vida adulta, continua impossível e a ele têm de renunciar os amantes para que não
se consumam totalmente, esperando por anos de serenidade para se reencontrarem
definitivamente.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">A
ideia que subjaz em toda a história é a de um amor que não se corrompe e
permanece na mais profunda idealidade e ternura. Porém, para que não se
corrompa, é transposto do palco da vida onde tudo se corrompe com o tempo, para
o altar da privação onde tudo é memória e possibilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Enquanto
vive em potência, como esperança, como algo que não se deixa consumir, alimenta-se
da dor da privação, da voluntária privação que parece salvaguardar um bem
maior, um bem que projectado no futuro quase parece projectar-se para além do
real tornando-se ideal, ou seja, transcendente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Atendendo
ao que no filme não é dito, de algum modo a juventude e a sua generosidade ingénua
é o padrão do mais fogoso e mais místico amor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">2. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">Na
moral da obra, o amor suplanta a infidelidade e a infidelidade acaba por ser o
factor de acalmia para a incendiada paixão que não se apaga. No reencontro
entre os amantes, não obstante ela, Camille (Lola Créton), estar comprometida com o marido, Lorenz (Magne-Håvard Brekke), tudo se
retomou como se nem se tivesse interrompido. A intimidade era quase natural e a
distância não existia. Porém, perante o prelúdio de uma nova alienação Sullivan (Sebastian Urzendowsky) impõe novo afastamento.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Depois
de uma reacção dolorosa Camille regressa a Lorenz e parece viver feliz na
resignação, porque sublima o amor e transporta-o para um outro estado em que
permanece dentro de si mais secreto e íntimo que nunca. Lorenz que é a figura
que a impede de se perder e lhe dá segurança, é para ela suficientemente
indiferente para não o confundir no seu amor e lhe permitir viver secretamente
e sem perturbação o seu amor enquanto sonho, enquanto ideal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: 'Times New Roman';">3. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">No
reencontro e nas saídas na sequência desse reencontro, Camille, procura as
diferenças que a separam de Sullivan e conclui que não sabe porque o ama tanto
e tão definitivamente. Sullivan, sempre aflito e preocupado com o que pode
perder por ser possuído por aquela avalanche amorosa, sabe em cada momento
afastar-se embora, depois, nada mais perca se não a presença e a companhia daquilo
que verdadeiramente ama: Camille.</span></div>
</div>
<span style="font-family: 'Times New Roman';"><br /></span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman';">4. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">Um
filme em que a posse e a separação são pólos de uma visão jovem mas autêntica, de um amor sem manhas, sem truques, sem oportunismos, sem aviltamento do outro.
Um amor puro, duradouro e </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">resistente </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">a tudo. Um filme em que a ingenuidade não
se perde, ou não se deixa perder, e parece até encher a alma redescobrindo a alegria.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: 'Times New Roman';">Num
certo sentido, quase poderíamos dizer, um filme religioso, porque um filme de amantes que acreditam, que se correspondem e que não precisam da evidência da presença
para permanecer em estado de graça: <i>amantes e triunfantes</i>.</span>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-91524883333587497982012-04-02T01:45:00.001+01:002012-04-02T01:58:07.953+01:00Registos de Cinema XV, Coriolanus de Ralph Fiennes, 2011<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-zhpMfW-OtFY/T3j2g7hPfEI/AAAAAAAAAMA/H7EHLxMKPbY/s1600/coriolanus21.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="207" src="http://1.bp.blogspot.com/-zhpMfW-OtFY/T3j2g7hPfEI/AAAAAAAAAMA/H7EHLxMKPbY/s320/coriolanus21.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Coriolanus de Shakespeare, em versão contemporânea de Ralph Fiennes que co-assina o Argumento,
realiza e representa o papel principal ao lado de Vanessa Redgrave (Volumnia), Jessica Chastain (Virgilia) e de Gerard Butler (Tullus Aufidius), é uma obra de
registo híbrido. Nem recria a Roma do séc-V a.c., nem moderniza o discurso das
personagens fazendo-as representar como no século de Shakespeare apesar de
filmarem manifestações com telemóvel e seguirem a guerra em directo nas notícias da televisão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Há
outro aspecto híbrido para além do registo, que é o cenário e o tempo. Um lugar
que também se chama Roma ao lado de umas terras de um povo que também se
chama Volscos, ou seja, que nem é Roma
nem são os Volscos e, por isso, são não-lugares de uma acção totalmente
desenraizada e inverossímil, cruzados com uma sensação de que não há um tempo
dos acontecimentos, quer dizer, que não há um devir histórico, e tudo se passa
numa pura arbitrariedade, fora do tempo e fora da realidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Tudo
isto é possível porque se trata de um texto de Shakespeare. E um texto de
Shakespeare, mesmo mergulhado na estranheza de estar fora do tempo e do espaço,
fora de um concreto devir, trata de assuntos que não carecem dessa situação.
Trata do modo como cada um se deixa dominar pelas paixões e como isso o conduz aos
conflitos de que não pode dizer-se vítima mas sim autor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Nas
personagens de Shakespeare prevalece a liberdade individual na escolha do bem e
do mal, do belo e do feio, da verdade e da mentira. São as paixões a que cada
um se entrega e que o podem, ou não, dominar, que lhe definem o carácter e o
destino: porque a vida não é uma ficção sem consequências, mas sim uma realidade
que se projecta a partir de cada um e implica conflitos que não se evitam por
vontade. A racionalidade no homem, a racionalidade do espírito, sobrepõe-se ao
voluntarismo, aliás, submerge-o. O homem nada pode contra o poder das paixões
que o incendeiam, consomem e acabam por destruir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O
moralismo é esvaziado pelo provérbio. Shakespeare não esconde as personagens
num discurso moral, pelo contrário, expõe-nas ao saber decantado dos provérbios,
que nos ensinam que para além do que presumimos saber, há um diabo que nos troca as voltas, e nos acaba por fazer saber que os avisos não eram juízos
morais que a nossa ousadia e atrevimento pretenderam contestar, mas provérbios
que o tempo já testou e que não vale a pena provocar. O avaro é vítima da
avareza, o curioso é vítima da curiosidade, o cobarde é vítima da cobardia,
etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Em
“Coriolanus”, o auto-investimento do poder e o seu exercício sem contemplações,
sem paciência, e sem partilha com os outros, conduziu Caius Marcius à situação frágil
e desprotegida dos que estão sós e rodeados pela inveja, o medo e a vergonha dos
fracos. Foi-lhe fatal.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></div>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-25114529279346149712012-03-19T00:18:00.001+00:002012-03-20T00:32:28.517+00:00Registos de Cinema XIV, Jodaeiye Nader az Simin (Uma Separação) de Asghar Farhadi, 2011<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-percZt2uaHk/T2eJ6xw0hkI/AAAAAAAAAL4/YJACxFjTz4I/s1600/l_1832382_d94e6e4c.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-percZt2uaHk/T2eJ6xw0hkI/AAAAAAAAAL4/YJACxFjTz4I/s320/l_1832382_d94e6e4c.jpg" width="228" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';">Há,
actualmente, um cinema que não se corrompe na tentativa de manipulação do
espectador, que não tenta manipular as suas emoções, nem ser moralista quanto
às razões da acção de cada um. Vimos isso em <i>O Segredo dos Teus Olhos</i></span><span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';">, em <i>Num
Mundo Melhor (Hævnen)</i></span><span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';"> ou em <i>Le Havre</i></span><span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';"> e em muitos outros <i>cinemas</i></span><span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';"> fora da
influência dos modelos de produção estandardizada, industrial e dirigidos às
massas enquanto massas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';">Este
cinema, </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">aparentemente </span><span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';">de baixo orçamento, enraíza-se numa tradição
poético-literário-dramatúrgica em que a imagem nem se autonomiza, nem se
sobrepõe ao desenvolvimento do drama. É um cinema que vive da representação e,
por isso, da palavra e da sua pausa, o silêncio. A imagem passa despercebida
enquanto intenção estética dando, não obstante, a <i>cor</i></span><span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';"> dos ambientes e
gerindo os planos com a intenção de fazer sobressair a expressão, a eclosão da
palavra e da sua forma de ser soprada, dita, proferida. Na fotografia (cenário),
também, de Asghar Farhadi apesar da profundidade de campo dos magníficos planos
de conjunto onde a geografia dos espaços, das personagens e das suas relações
em conflito se encontram, predominam os grandes planos das personagens, fazendo
sobressair a pessoa, essa através da qual soa, a voz e o carácter.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';">É
do carácter que o filme trata, ou seja, da forma como cada um se rege por
princípios que assume e mantém, ou que adapta por conveniência de outras
causas, ou que manipula por puro interesse próprio. Todas as personagens com
capacidade de decisão são confrontadas com a sua consciência e com o dever
moral, uns, e imperativo ético, outros, num desenrolar de vários tipos de
conflitos: entre marido e mulher, entre patrão e empregado, entre pais e
filhos, entre lei e natureza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';">Todos
os conflitos têm origem no confronto das interpretações dos vários tipos e
graus da lei. A lei, isto é, o conjunto dos princípios, das regras, dos
preceitos, das tradições reconhecidas e das práticas definidas no Direito, é o
que determina nas sociedades a possibilidade da sua existência. Sem lei não há
sociedade. Procurando garantir-se pela lei, cada indivíduo procura a razão dos
seus actos e julga inevitavelmente os actos dos outros. A sociedade, enquanto
resultado da harmonia assumida pelos diversos indivíduos depende, de a assumpção que cada um tiver feito
da lei, estar ou não de acordo com o que cada outro indivíduo tiver, por seu
lado, assumido. A origem dos conflitos é, para além dos interesses de cada um e
da possibilidade de os manipular, a interpretação que cada um faz desse acordo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';">Cada
um, por seu lado, imagina e concebe esse acordo conforme a sua percepção,
conhecimento e sabedoria. Como se
vê ao longo do filme, todos têm as suas razões subjectivas para orientar os seus
actos, excepto o juiz que analisa as diferentes situações – divórcio,
despedimento e morte do feto, descuido nos cuidados com o doente e a atribuição
da responsabilidade parental– à luz da lei e não das verdadeiras razões que
entre verdades e pequenas mentiras resultantes de balanços e necessidades de
cada um, motivaram os seus actos.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';"><br /></span><br />
<span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';"></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';">Tudo
são subtilezas de interpretação, pontos de vista em que o conflito entre
interesse, dever e consciência, triangulam no íntimo das personagens gerando
afirmações e contradições, certezas que se transformam em hesitações e um
processo de acusação e culpa permanente que desfere juízos e acaba em perdões.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';">Dos
padrões morais e éticos das personagens evolui-se para as reacções perante as
situações e dessas reacções surgem, na relação com os outros, os conflitos. Um
exemplo deste conflito é o de Razieh (Sareh Bayat) que perante a necessidade de
sustentar sob juramento sob o Alcorão o que sabia ser uma mentira, recusou
jurar, ainda que com isso tenha prejudicado o marido Hodjat (Shahab Hosseini) que seria o principal
beneficiário da mentira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span lang="PT" style="font-family: 'Times New Roman';">O filme abre e fecha com o plano de um casal, Nader
(Peyman Moaadi) e Simin (Leila Hatami), em processo de separação. Primeiro
pedindo ao tribunal a separação que não é concedida e no fim com o mesmo casal
separados num corredor à espera da decisão da filha Termeh (Sarina Farhadi) sobre com qual dos dois
quer ficar. Tudo o que se passa entre estes dois momentos é uma permanente
separação, como se cada um dos conflitos abertos fosse uma permanente separação
não só entre as pessoas, mas também de si mesmos. Como se o direito, a lei e o
juízo fosse o que separa e não o que é precisamente para unir.</span>
</div>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-35410776802059795242012-03-06T22:57:00.000+00:002012-03-07T07:59:27.825+00:00Registos de Cinema XIII, Shame de Steve McQueen, 2011<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-urXLuNIQzQ0/T1cVURBtrkI/AAAAAAAAALo/DW9NfXRnapA/s1600/shame-movie-photo-01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="191" src="http://4.bp.blogspot.com/-urXLuNIQzQ0/T1cVURBtrkI/AAAAAAAAALo/DW9NfXRnapA/s320/shame-movie-photo-01.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">Shame</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">
não é bem sobre a vergonha mas sobre o vício e o sentimento de culpa. Tenta a
ideia de arrependimento mas deixa no ar a reincidência. Sendo sobre o vício é
também sobre a solidão a que o vício conduz. É, alias, a principal consequência
do vício: a solidão, pior, o isolamento. Não tanto pela vergonha mas mais pela
impossibilidade de partilha. O isolamento é a impossibilidade de partilha. Nem só
os vícios isolam, as mentiras, as simulações, as falsidades também isolam, no
entanto, resultam duma chantagem social e emocional que envolve terceiras
partilhas e por isso isolam só em parte. A natureza do vício é o anonimato e a
solidão absolutas. É essa dimensão de absoluto que leva a que muitos não
suportem os seus próprios vícios e sucumbam. Enquanto que as mentiras, as
simulações e as falsidades descobrindo-se ou não criam correntes diferentes de
apoio e repúdio que dissolvem o centro e a responsabilidade individual. O
vício, não: é cerebral, calculado, meticuloso. Por isso, é perigoso. Desenvolve
uma forma de vida paralela à realidade e absolutamente insuspeita. Desenvolve
na pessoa uma segunda vida. Outra pessoa. É este o tema do filme.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">Há no início uma rotina maquinal. Brandon
(Michael Fassbender) tem uma vida sem sobressaltos, absurda, mas aparentemente
satisfatória, dividida entre sexo mercenário, sexo ocasional, pornografia e
auto-satisfação. Entra em cena a irmã, Sissy (Carley Mulligan), uma suicida
compulsiva, emocionalmente desequilibrada, que procura protecção, família e um
refúgio que a afaste de si própria e dos seus distúrbios, mas a quem ele
resiste violentamente na defesa do seu território e do seu secreto vício.
Egoísmo puro. Ela apela aos laços de sangue e ele é brutal no despeito e na
rejeição. Ela telefona-lhe ininterruptamente “pedindo socorro”, mas ele,
obsessivamente focado na sua espiral sexual, compulsiva e incontinente recusa
atendê-la e ela, sozinha, acaba por se tentar suicidar novamente. Porém, ele
salva-a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in extremis</i>, e perante o
espectáculo de horror descobre a culpa e, aparentemente, o arrependimento.
Fica-se na dúvida. O registo voyeurista do filme, torna-o inconclusivo e sem
densidade. À excepção do título que acaba por ser um juízo moral, uma vez que
no filme não encontramos propriamente um sentimento de vergonha, tudo pretende
ser sem interpretação, uma espécie de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">vejam
o que aconteceu</i>, ainda que, o que aconteceu seja um arranjo conveniente sem
verdadeira construção da personagem. Quem é Brandon?, de onde vem?, como chegou
ao que chegou?, como vive com isso intimamente? Sobre isto nada. Descreve-se um
anónimo, como se houvesse verdade num estereótipo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">Curioso seria abordar este tema a partir de dentro,
do tormento da personagem, da origem e do progresso do vício, e o seu culminar,
por si mesmo, e não provocado pela acção exterior da irmã que vem apenas dar um
tom moral ao tema do vício que era suposto ser abordado e escalpelizado. Seguiu-se
a via mais simples dos clichés, de um sentimentalismo superficial,
estereotipado e pretensiosamente elegante. A estética consome-se sem poética.</span>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7133129496988595365.post-637690775106725182012-02-21T10:11:00.003+00:002012-02-21T10:14:51.590+00:00Solidão e Genialidade<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-gbaRCIV36yI/T0Ntuu3sm-I/AAAAAAAAAKo/9mvjwiG1pE0/s1600/IMG_1514.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="http://3.bp.blogspot.com/-gbaRCIV36yI/T0Ntuu3sm-I/AAAAAAAAAKo/9mvjwiG1pE0/s320/IMG_1514.JPG" style="cursor: move;" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">A propósito da demência de Margaret Thatcher, e tendo
presente Fernando Pessoa que uma exposição actualmente na Fundação Calouste
Gulbenkian trouxe à ribalta, mas considerando muitos outros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">O que é a normalidade e o que é a demência.
Falar sozinho, falar com fantasmas, viver mergulhado numa vida interior e ver
daí o mundo exterior, dar-lhe a partir daí um conteúdo, isso será demência? O
que sempre fizeram os artistas e os filósofos?, aqueles que o tempo nunca compreendeu
e, por isso, segregou ou nem sequer atendeu? A loucura, era ou não lucidez? Com
quem falar quando não há interlocutor? A quem ouvir quando ninguém pode dizer o
que importa dizer?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">O ser excepcional tende para a solidão e para o
isolamento. Tem de construir o seu lugar, tem de construir as suas pontes e tem
de se construir no imaginário dos outros. É natural que fale sozinho, que conte
só consigo e que tenha uma determinação férrea e sem hesitações, pois, sabe que
não terá ajudas. Ao contrário dos que decidem sem responsabilidade diluídos no
grupo, o líder tem de decidir sozinho, não alija responsabilidades, não se
esconde, não se dissimula. Apresenta-se, afirma-se, confirma-se e sofre sozinho
as consequências.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">O poeta maior, como o político maior, como o
artista ou o filósofo maiores, são inteiros e íntegros. São a sua arte e a sua
loucura no mesmo instante e no mesmo lugar. E não mudam. Talvez a percepção que
se tem deles mude, e muda, mas eles propriamente não mudam. Só sabem viver de
um modo. O que numa idade é visto como fulgor, percepção, talento e
singularidade, noutra idade é convertido em demência, loucura e alienação
degenerativa. Mas os sinais estão lá todos em todas as idades. Muda a alegria, transforma-se
a ingenuidade, enfraquece a determinação, empalidece a esperança, emerge uma
nostalgia e instala-se um sentimento de perda, mas não muda a obstinação, a
certeza da visão, a luminosidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 11pt;">Recolhidos ao seu mundo que agora os outros chamam
de fantasia, os ex-líderes-da-sua-obstinação preferem regressar ao sossego da
sua intimidade e viver rodeados dos seres vivos e mortos que independentemente
de estarem vivos ou mortos estão presentes no grande salão da sua alma.</span>João Luís Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/05505065807117833161noreply@blogger.com0