O que é um herói?, perguntava-me há dias, tentando encontrar
um significado para os actos humanos, um significado que fosse determinante
para os distinguir de simples acções. Conhecendo a história de Rodriguez a
resposta poderia ser: o anti-herói!
Num tempo de espavento e pigmeus empoleirados, de
pseudo-vates em pose definindo com rigor os 3/4 de torção do seu busto no palco da televisão ou de
auto-proclamados pensadores pertinentes detentores de uma moral considerável e
a ter em consideração, Rodriguez, o anti-herói, é tudo o que os outros queriam
parecer ser e ele próprio, do alto da sua autoridade e do seu real talento, não
parece. Mais, não parece nem aparece, porque se apagou, indiferente ao mundo, e se dissolveu entre operários tarefeiros vivendo de anónimos biscates e
trabalhos pesados que ninguém quer fazer.
De trolha a estrela rock, herói de um país (Africa do Sul) que não conhecia,
Rodriguez, entra e sai do seu estatuto com a mesma serenidade, a mesma
humildade, a mesma irradiante simpatia e o mesmo acolhimento do próximo. É assim que
deixa a sua casa de sempre em Detroit depois de 20 anos afastado dos palcos
para ir dar 6 concertos esgotados na África do Sul, perante um público em
êxtase que descobriu que afinal não era órfão de um pai espiritual que nunca conheceram
nem presumiram poder alguma vez vir conhecer, mas que lhes tinha legado as cores dos
seus sonhos.
O primeiro concerto em Cape Town é um assombro, não por uma histeria do público, como a que causavam nas adolescentes os Beatles ou Elvis Presley, mas pelo
preenchimento de alma que a sua aparição lhe concedeu, como um milagre ou uma
bênção que sobre ele se derramou. O impensável estava, então, a acontecer e Rodriguez
abraçou o público, beijou-o e devolveu-lhe um novo sentido para a palavra esperança.
MUito bom!
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