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segunda-feira, 10 de junho de 2013
Dois apontamentos sobre a complexidade
O efémero alimenta o dia-a-dia, por exemplo: de notícias. Mas cada um, apesar dessa ilusão informativa, vive numa corrida de fundo que o leva onde queira ou não queira, para onde saiba ou não saiba, como a doença, por exemplo, que se vai lentamente formando até se tornar um problema no momento da sua manifestação. Será a isto que chamamos complexidade?, a dificuldade que nasce da relação entre o fluxo da vida e a nossa consciência reflexiva?
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Há um curso natural que o homem procura descortinar, até à presunção da descoberta, o elemento primordial a partir do qual pudesse construir a mesma realidade em que a vida se manifesta, expressa e se dá. É a esperança dos que tomam o mundo físico e a fenomenologia como sendo toda a realidade. É a esperança dos que consideram que o mundo material é todo o mundo e têm como fim demonstrar que não há espírito nem transcendência mas apenas matéria (ainda por definir o que seja e até que haja) e imanência.
Há, também, um curso especulativo, em que a actuação do homem vem do espírito e o homem actua sobre o mundo físico e fenomenológico, não para o manipular e por ao seu serviço, mas para o compreender e interpretar e assim dar um sentido à sua vida inteligente, à sua consciência e à existência em que participa. E, também assim, dar à natureza uma finalidade cujo estado e condição não permitem mais que repetir-se infinitamente sem progresso moral e intelectual como se nada significasse.
É complexo, perceber que há um curso natural e um curso especulativo e que tudo depende da realidade e veracidade que for atribuída ao pensamento que é afinal onde tudo se decide quer para uns quer para os outros. Por isso surgiu a filosofia, e a sua complexidade está mais na noção de humildade, de nos despirmos para atravessarmos o rio, do que em todo enciclopedismo coleccionista que possamos armazenar em nós e fora de nós.
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Registos de Cinema VIII, Melancholia de Lars von Trier, 2011
Já o víramos em Tree of Life de Terrence Mallick: a recriação de processos naturais (evolução do planeta, vulcões, moléculas, etc.) através de efeitos especiais computorizados onde a fatalidade dos ciclos naturais determinam a condição humana e secundarizam o papel do homem. No caso de TM reduzindo o humano e os seus conflitos a uma ilustração de uma actividade que pela escala, ora macroscópica ora microscópica, perpassa o homem mas sem que ele disso chegue a ter consciência. No caso de LvT o humano participa dessa ilustração, integra-se nela e, reduzido a uma condição de ser natural, abre-se nele um conflito pela percepção do vazio, do fim, do que se sucede sem apelo nem recurso e, caído nessa teia do natural, toda a sua capacidade de pensar e reagir é eliminada ficando a angústia sombria de ver o fim aproximar-se ou, no caso deste filme, vendo a Melancholia (nome do planeta que vem chocar com a Terra) aproximar-se sem nada poder fazer.
O cenário romântico é densificado e tornado pesado pela latência do vazio em que as personagens se movem, sem esperança e sem amor.
Melancholia aparenta ser um conflito permanente entre a perfeição exterior, mas vazia de Claire (Charlotte Gainsbourg) e a angústia desordenada mas lúcida de Justine (Kirsten Dunst). Porém elas são apenas dois momentos de uma mesma natureza: presságio e pesadelo.
O filme divide-se em duas partes mas com uma espécie de introdução composta de imagens em câmara muitíssimo lenta, quase fotografias, de situações oníricas onde se encadeiam imagens que sintetizam toda história posterior; Depois da introdução, as duas partes, cada uma com o nome de cada uma das irmãs: Parte 1, Justine, a sensível e melancólica, auto-confiante mas depressiva, pressagia o futuro e antecipa o desastre; Parte 2, Claire, a racional e vulnerável, organizada mas insegura, vive o pesadelo do fim.
As imagens em câmara muitíssimo lenta são uma antevisão do filme e, desse modo, uma espécie de aviso do que de pior poderia acontecer e que no final acontece mesmo. Os presságios de Justine são os pesadelos de Claire.
As restantes personagens são instrumentais. Michael (Alexander Skarsgard), o noivo, é usado numa tentativa de normalidade emocional de Justine que falha antes ainda do amanhecer. John (Kief Sutherland), o marido de Claire, é usado para garantir a estabilidade e um mínimo de racionalidade de Claire e da sua família de loucos. Gaby (Charlotte Rampling), a mãe de Claire e Justine, serve para representar a clivagem afectiva das filhas, a sua perdição, e Dexter (John Hurt), o pai e ex-marido de Gaby, é um velho bêbado, sem força, sem compromisso, sem determinação.
As mulheres são, nesta obra de LvT, a natureza, a qual, se tivesse sentimentos seria isso que elas são: melancólica (Justine) e desesperada (Claire), violenta (Gaby) e vazia (as Bettys).
Os homens são o espírito ausente, facto que os vota à cobardia (John), devassidão (Dexter), insignificância (Michael), crueldade (Jack), impessoalidade (Tim) ou ao puro servilismo (Mordomo). Acabam todos por desaparecer.
A criança (Leo), representa o pensamento ingénuo, mágico, intrépido mas sem a reflexão de si mesmo.
A natureza num mundo sem espírito conduz-se fria e impenetrável até à destruição total. A natureza quando em si e para si é a própria solidão. Falta espírito redentor, falta amor e daí a explosão final como se tudo fosse mesmo para acabar, sem esperança e sem remissão. LvT num labirinto viciado.
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