domingo, 30 de junho de 2013
Os dias felizes e os outros
A rotina desaparece e começa uma vida nova. Passado o tempo em que viver tinha como objectivo repetir os dias, os dias felizes e os outros, instala-se uma nova ordem. Ou será desordem?
Todos os dias passam a ser diferentes como se o presente não ligasse passado e futuro. E o pretérito objectivo desapareceu.
Viver passa a ser esperar. Esperar pelo dia em que de novo se possa regressar à rotina de repetir os dias, os dias felizes e os outros, porque ambos são nossos, e para que, assim, a morte quando chegar, recolha o nosso sorriso em vez da nossa incompreensão.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Registos de Cinema XXV, To the Wonder de Terrence Malik , 2012
1. Neil (Ben
Affleck) e Marina (Olga
Kurylenko) viveram
em Paris, uma paixão arrebatadora e passearam-se idilicamente no
Mont-Saint-Michel, cuja abadia é denomindada: La Merveille. Mais tarde, nos
EUA, para Neil, cuja profissão é detectar sinais de contaminação em terrenos rurais, a paixão entrou
numa rotina sem esperança e a relação perde o sentido. Disso se apercebendo, Marina, procura Quintana (Javier Bardem), um padre católico que se interroga
permanentemente sobre a sua relação com Deus. Marina decide regressar a Paris sem uma
aparente razão aproveitando o facto, técnico, do seu visto estar a expirar e Neil
não ter decidido casar com ela. Sozinho, Neil reencontra Jane (Rachel
McAdams), de quem tinha gostado na juventude, mas também com Jane, Neil, não foi capaz de se
compromoter e deixaram-se. Marina, entretanto regressa dando-se-lhes uma segunda oportunidade mas, as promessas do primeiro amor
depressa se dissiparam e Neil, no momento de se comprometer com o futuro, apesar
de se terem casado, hesita em ter um filho e Marina destroçada entrega-se ao
primeiro homem conhecido com que se cruza e lhe deita um olhar. Esta a sinopse
de To the Wonder. Dois homens em sentido oposto, um que se deixa tomar pelo vazio
(Neil) e outro que luta pela vida contra o vazio (Quintana o padre). Duas
mulheres (Marina e Jane) que procuram uma realização, uma concretização, um
comprometimento e que são abandonadas.
2. Seria
importante relacionar La Merveille (a abadia do Monte de Saint Michel na Normandia),
com a abordagem do Amor e da Verdade ensaiada por Terrence Malik. Primeiro
porque é explícito na escolha do título do filme, depois porque sendo um dos
cenários do filme e ficando como título há-de ter um significado concreto: há
na “Maravilha” um duplo sentido humano e divino que está presente nesta obra de
Malik. Em teoria, explicando La Merveille poderia explicar-se o filme.
La
Merveille é um lugar que ganha importância com a implementação do cristianismo
na Europa como lugar de oração e estudo. Centro de peregrinação com raízes
religiosas ancestrais, La Merveille, foi sendo construída como uma porta que
liga a Terra e o Céu: a sua arquitectura no estilo gótico flamejante, é em si
mesma a transformação de um macisso rochoso numa abadia monumental enriquecida
por detalhes ornamentais de grande delicadeza.
É este
carácter diria mágico que faz de La Merveille um lugar denso psicologicamente e propício a uma transmutação interior: como se cada um fosse tomado por um encantamento, que
o fizesse tocar os céus. Depois dessa experiência, o mundo, é uma longa
provação. Como se entre as pesquisas geológicas infernais de Neil e o enlace
amoroso com Marina em La Merveille se deambulasse entre o céu e o inferno.
3. To the Wonder, que recebeu em português o título A
Essência do Amor, é uma procura do Amor verdadeiro e da Verdade em si
mesma. O Amor verdadeiro é o que dá o braço à Verdade, é o que, não presume
resumir-se aos falíveis sentimentos humanos mas que procura dar a esses
sentimentos um destino superior à sua simples dissolução. Fala-nos do Amor humano que
se declina do Amor de Deus e que a ele se terá de manter fiel. Diz-se
interrogando:
— Que Amor é este que nos ama, que vem de parte nenhuma, de tudo em redor, do céu, das nuvens? Tu também me amas?
— Que Amor é este que nos ama, que vem de parte nenhuma, de tudo em redor, do céu, das nuvens? Tu também me amas?
O Amor de que todos
participamos não nasce em nós, não nasce em cada um e depois é trocado entre todos. O Amor
é uma relação de que todos participamos e que assume formas diferentes nas relações
sem que deixe de ser o mesmo Amor. É sempre participação de uma realidade que
nos transcende. Da nossa condição, então, não temos a plenitude da experiência
amorosa e o nosso carácter, a nossa incompreensão, a nossa ignorância
exprime-se no bloqueio à corrente do amor, exprime-se no egoísmo, no isolamento
em que nos afirmamos mas em que, depois, ficamos sós e sem Amor.
O padre Quintana,
vive a consciência desse bloqueio, acredita, dedica-se, mas algo nele o impede
da experiência empática com Deus, com o Amor de Deus. Quer ver mas não vê e nas
suas homilias, no seu esforço de compreensão e de comunicação, não foge às
questões e enfrenta-as e diz que se por alguma razão não sentires o Amor então
obedecerás, porque quando Cristo diz Amarás, não está a sugerir mas a mandar
que se ame, a mandar cada um impor-se a essa necessidade de amar para lá da sua
compreensão, pois só assim poderá encontrar o Amor e não, desistindo porque não
sente.
O Amor verdadeiro é
comprometimento, diz Quintana, e essa Verdade do cristianismo, que é todo ele
comprometimento e empenho, dedicação e esperança, não poderia dizer-se outra coisa
sob pena de chegar à mesma conclusão de Anne: se isto não foi Amor então não
foi nada, foi apenas prazer e luxúria. Sem verdade isso é vício. É aqui que se
dá o carácter transfigurador do Amor: tudo se pode sempre reduzir a nada, tudo
se pode sempre reduzir ao vício, mas a consciência permite-nos viver os
sentimentos com uma finalidade para além de apenas sentir, com uma finalidade
que torne os sentimentos robustos e cada vez mais fortes, e isso é o
comprometimento, o empenho, a dedicação, a esperança de uma realização íntima e
transcendente, pessoal e universal. Um comprometimento mútuo em vez de um mútuo uso. Porque estaremos mais disponíveis para sermos usados mutuamente em vez de procurarmos ser mutuamente comprometidos?
Nas suas
deambulações, porque as personagens neste filme parecem sempre deambular numa espiral
interior, surge a segunda pergunta chave do filme: onde estamos quando estamos
lá? Ou, o que é verdade quando estamos lá em cima? Esta interrogação liga a
Verdade e o Amor, ou seja, põe a interrogação sobre o que seja a Verdade numa
perspectiva não humana mas divina: se soubermos o que é a Verdade, o que será essa
Verdade? Daqui apenas a podemos imaginar, sonhar, ou ouvir e não podendo saber
o que é a Verdade pela nossa condição actual, podemos pela oração e pela
reflexão na Verdade revelada ir desvelando e desencobrindo esse Amor que
nos parece distante de nós e quase desumano, caso não fosse para nos dar a
plenitude da nossa humanidade que ele existisse.
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segunda-feira, 10 de junho de 2013
Registos de Cinema XXIV, Before Midnight de Richard Linklater , 2013
1.
O tom geral do filme e a representação parecem ensaios em que os actores, estão tão familiarizados com os seus papéis, que os representam com excesso de à vontade e com pouca densidade, por isso mesmo de não representarem os diálogos, mas os dizerem. Estes parecem ditos em contra-relógio, disparados sem os tempos próprios de reacção nos quais os actores fariam as personagens construir respostas pensadas e provocatórias que apenas são verosímeis caso haja o tempo de ouvir, o tempo de digerir e inventar e o tempo de responder. Os silêncios são ocupados pela resposta pronta e previamente definida.
O tom geral do filme e a representação parecem ensaios em que os actores, estão tão familiarizados com os seus papéis, que os representam com excesso de à vontade e com pouca densidade, por isso mesmo de não representarem os diálogos, mas os dizerem. Estes parecem ditos em contra-relógio, disparados sem os tempos próprios de reacção nos quais os actores fariam as personagens construir respostas pensadas e provocatórias que apenas são verosímeis caso haja o tempo de ouvir, o tempo de digerir e inventar e o tempo de responder. Os silêncios são ocupados pela resposta pronta e previamente definida.
Há uma informação e uma riqueza de assuntos ao longo do
filme que parecem desadequados para as personagens, sobretudo de Jesse (Ethan
Hawke). Julie Delpy parece ter um papel, o de Céline, mais feito à medida da
sua representação, sempre a tentar ser muito natural, parecendo quase que a
personagem e ela própria estão em perfeita sintonia. Denota um prejudicial overacting. Já Jesse parece ser sempre
superficial, demasiado exposto para um escritor, com opiniões coladas à cultura
da citação, com ideias para livros sempre muito pretensiosas como se tudo o que
lhe vem à cabeça fosse interessante ou genial. Essa personalidade sem filtro não parece
ser adequada a um escritor, muito menos aquela partilha com desconhecidos,
amigos recentes mas desconhecidos, das ideias que vai tendo como se um autor
não guardasse para si e protegesse, a surpresa da narrativa, sobretudo, entre pares, como é o caso.
2.
Entre vários temas secundários, o tema central é a relação de
Céline e Jesse, num momento em que se abre um conflito enraizado nas diferenças
de quem não pode, pela sua condição (Jesse tem um filho que não vive com ele e por quem desenvolve um sentimento de culpa / perda quando ele regressa a casa da mãe depois das férias com o pai), partilhar a totalidade dos seus problemas,
dos seus sentimentos e da sua forma de encarar o futuro. Um sentimento não
partilhado, um problema individual, ou uma expectativa que não é comum, podem
ser falha que dá origem à separação porque isolam um em relação ao outro.
Existem muitas banalidades para alimentar as questões de
género e o filme não as dispensa: o chorrilho das razões de queixa com os
pormenores do dia-a-dia, como a tampa da retrete para cima ou para baixo, as
tarefas de cada um nesse dia-a-dia, os esforços de um e que presume que o outro
não repara, etc. A psicologia feminina e a psicologia masculina em vez de
actuarem nas vantagens da diferenciação colidem na tentativa de se
homogeneizarem e, daí, o conflito. Os conflitos não resultam de pessoas
diferentes quererem objectos diferentes, mas de pessoas diferentes quererem o
mesmo objectivo. A partilha de objectivos convoca a diferença e não a
igualdade, a partilha de objectivos convoca a complementaridade e não a
mesmidade.
A questão é, então, perceber se houve, na relação que
termina, um mesmo objectivo ou se apenas houve uma disposição interior para representar numa realidade ficcionada que era a de haver algo em comum que era partilhado. Que
factor desencadeou essa disposição e que factor a abortou? As banalidades do
dia-a-dia são uma mentira útil em que não se é sério consigo mesmo
se as invocarem como motivo de queixa relativamente ao outro.
Os papéis feminino e masculino nas relações são muitas vezes assumidos, inicialmente, de uma forma que se vai transformando e quase inverte, posteriormente, com
o passar da novidade, com a instalação das rotinas e com a manifestação
continuada das personalidades. Percebe-se, muitas vezes, que os papéis
inicialmente assumidos não sendo forçados alimentavam-se de uma assumpção
deliberada que acaba por se deixar de alimentar. Ou seja, tudo o que era inicialmente
assumido e aceite, quebrado o encanto, é dito afinal como tendo sido tolerado,
ou seja, perdendo-se a disponibilidade para amar, tudo passa a ser visto ao
contrário. O outro que era amado tal qual era passa a ser o que impede o mesmo
de ser aquilo que o outro é. Explicando: a mulher que fazia com doçura e prazer determinadas tarefas, de
súbito, passa a criticar o homem por ele não fazer também aquilo que ela faz,
que afinal essas tarefas eram penosas e ela fazia-as com sacrifício pessoal e
preferindo delegar (coisa que depois não seria verdade, pois apenas quer que se
reconheça a importância vital e suprema das suas actividades em prol da família
e dos outros), e passa a dizer que o que ela queria mesmo fazer era fazer aquilo
que ele faz (apesar de depreciar e fazer equivaler à nulidade essas actividades
ociosas) e irrita-a vê-lo a fazer aquilo que ele faz porque estando ele a fazer
esvazia a possibilidade de estar ela a fazer. O conflito, diríamos, combate,
não é racional. É emocional e tem a ver com as perdas irreparáveis que todos
carregamos e não conseguimos superar. Vivêssemos em paz connosco próprios e não
haveria conflitos que nos atormentassem.
O anfitrião da casa de férias, um velho escritor que aqui se pretende que simbolize a sabedoria, aconselha os seus convivas sobre a frase inscrita no frontão do Templo de Delfos "Conhece-te a ti mesmo".
O anfitrião da casa de férias, um velho escritor que aqui se pretende que simbolize a sabedoria, aconselha os seus convivas sobre a frase inscrita no frontão do Templo de Delfos "Conhece-te a ti mesmo".
3.
Na cena final procura-se um fim feliz. Considerando as
características de Céline o fim feliz é consistente, ou seja, conjuga-se com a
personalidade inconsequente de Céline, mas não é o corolário da
conversa que manteve durante a noite com Jesse. O amor estava impossibilitado
com tudo o que se disse. Jesse sai do quarto onde Celine o deixou sozinho e vai
sentar-se junto de Celine tentando demovê-la da decisão de não o amar. Ela
decidiu não o amar. Isso não é coisa que se decida. Ama-se ou não se ama. O
resto são indecisões de diversas fontes e motivos nascidas e criadas nas insinceridades que temos
para connosco próprios. Mas sobre amar, se há dúvidas, então, não se ama.
Teríamos assistido, no final do filme, ao fim de uma
relação. O que se disse fez nascer dois estranhos, duas pessoas que apesar de
toda a intimidade e confiança se tornam de súbito, um para o outro, estranhos. Como se
dentro do outro houvesse um ser inesperado que sai de uma ignorada latência
para a afirmação e esse ser é um estranho. Aí, percebe-se que o amor era afinal,
apenas, a coincidência de investimentos pessoais numa ilusão que só poderia
durar o tempo da vontade dessa coincidência. Essa coincidência começa com um
desejo mútuo, depois torna-se numa cerimónia , depois numa hesitação
desgastante alimentada por um certo incómodo moral e, por fim, dá-se a ruptura,
feita de separação e rejeição como se da libertação de uma toxina se tratasse.
Podia ser uma história das imitações do amor. Imitações num tempo
em que se vive só para a imagem, para a superficialidade e para o vício. O
amor, ou antes, a sua imitação é mais um prêt-a-porter
sem verdade nem responsabilidade. E sem respeito genuíno pelo outro. O outro
não é acolhido no coração, é apenas um invasor a quem, por qualquer interesse, não
se dá luta temporariamente. Por medo da solidão, por luxúria, por conveniência,
por muitas razões, até razões insondáveis.
Pudesse cada um conhecer-se verdadeiramente a si próprio e
talvez pudesse, então, saber o que é e não aquilo que presume ser. Pudesse cada
um conhecer-se a si próprio e talvez descobrisse que os actos que presume
sérios, verdadeiros e sinceros possam ser oportunistas, interesseiros e até
vazios como os daqueles que despreza. No filme de Richard Linklater, como
afirmamos antes, tudo acaba numa pieguice irreal. Tudo estava acabado quando a
primeira dificuldade abriu não um pequeno roço mas uma fenda cósmica. Ambos
transportavam essa fenda cósmica apenas não lhe davam importância para melhor
enfeitarem a sua simulação do amor.
Sendo quase natural, o Amor, é quase impossível pelo menos
enquanto não houver dentro do fundo de nós um mínimo sentido da heroicidade que
é aquele que nos ensina a ter coragem de morrer pelo outro.
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Dois apontamentos sobre a complexidade
O efémero alimenta o dia-a-dia, por exemplo: de notícias. Mas cada um, apesar dessa ilusão informativa, vive numa corrida de fundo que o leva onde queira ou não queira, para onde saiba ou não saiba, como a doença, por exemplo, que se vai lentamente formando até se tornar um problema no momento da sua manifestação. Será a isto que chamamos complexidade?, a dificuldade que nasce da relação entre o fluxo da vida e a nossa consciência reflexiva?
...
Há um curso natural que o homem procura descortinar, até à presunção da descoberta, o elemento primordial a partir do qual pudesse construir a mesma realidade em que a vida se manifesta, expressa e se dá. É a esperança dos que tomam o mundo físico e a fenomenologia como sendo toda a realidade. É a esperança dos que consideram que o mundo material é todo o mundo e têm como fim demonstrar que não há espírito nem transcendência mas apenas matéria (ainda por definir o que seja e até que haja) e imanência.
Há, também, um curso especulativo, em que a actuação do homem vem do espírito e o homem actua sobre o mundo físico e fenomenológico, não para o manipular e por ao seu serviço, mas para o compreender e interpretar e assim dar um sentido à sua vida inteligente, à sua consciência e à existência em que participa. E, também assim, dar à natureza uma finalidade cujo estado e condição não permitem mais que repetir-se infinitamente sem progresso moral e intelectual como se nada significasse.
É complexo, perceber que há um curso natural e um curso especulativo e que tudo depende da realidade e veracidade que for atribuída ao pensamento que é afinal onde tudo se decide quer para uns quer para os outros. Por isso surgiu a filosofia, e a sua complexidade está mais na noção de humildade, de nos despirmos para atravessarmos o rio, do que em todo enciclopedismo coleccionista que possamos armazenar em nós e fora de nós.
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domingo, 9 de junho de 2013
Registos de Cinema XXIII, Searching for Sugar Man de Malik Bendjelloul , 2012
O que é um herói?, perguntava-me há dias, tentando encontrar
um significado para os actos humanos, um significado que fosse determinante
para os distinguir de simples acções. Conhecendo a história de Rodriguez a
resposta poderia ser: o anti-herói!
Num tempo de espavento e pigmeus empoleirados, de
pseudo-vates em pose definindo com rigor os 3/4 de torção do seu busto no palco da televisão ou de
auto-proclamados pensadores pertinentes detentores de uma moral considerável e
a ter em consideração, Rodriguez, o anti-herói, é tudo o que os outros queriam
parecer ser e ele próprio, do alto da sua autoridade e do seu real talento, não
parece. Mais, não parece nem aparece, porque se apagou, indiferente ao mundo, e se dissolveu entre operários tarefeiros vivendo de anónimos biscates e
trabalhos pesados que ninguém quer fazer.
De trolha a estrela rock, herói de um país (Africa do Sul) que não conhecia,
Rodriguez, entra e sai do seu estatuto com a mesma serenidade, a mesma
humildade, a mesma irradiante simpatia e o mesmo acolhimento do próximo. É assim que
deixa a sua casa de sempre em Detroit depois de 20 anos afastado dos palcos
para ir dar 6 concertos esgotados na África do Sul, perante um público em
êxtase que descobriu que afinal não era órfão de um pai espiritual que nunca conheceram
nem presumiram poder alguma vez vir conhecer, mas que lhes tinha legado as cores dos
seus sonhos.
O primeiro concerto em Cape Town é um assombro, não por uma histeria do público, como a que causavam nas adolescentes os Beatles ou Elvis Presley, mas pelo
preenchimento de alma que a sua aparição lhe concedeu, como um milagre ou uma
bênção que sobre ele se derramou. O impensável estava, então, a acontecer e Rodriguez
abraçou o público, beijou-o e devolveu-lhe um novo sentido para a palavra esperança.
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quarta-feira, 20 de março de 2013
Registos de Cinema XXII, Et si on vivait tous ensemble? de Stéphane Robelin, 2011
Sendo parte comédia, parte drama, o que
normalmente se pode traduzir por brincar com coisas sérias, “Et si on vivait tous ensemble?” é um filme triste. É de uma tristeza ainda mais triste porque
trata com superficialidade temas como a velhice e a dependência, amizade e a
traição, o altruísmo e a vaidade.
Há nas personagens uma auto-suficiência que as impede de uma visão da vida
para além dos limites do seu interesse imediato, incluindo esse interesse de
viverem todos juntos, por uma mera conveniência: preferem estar juntos
do que a ser ajudados em impessoais lares de idosos.
As personagens procuram viver o presente e nisso são optimistas. Vence-se cada dia com o prazer possível que é, naquela idade, de certa forma, resignado a um passado que já não se pode mudar. Um prazer que é, no presente, a sensação de viver do balanço das memórias que se vão adensando com a ultrapassagem de certa
curva da idade. O tempo, essa irremediável sucessão, deixa o passado ir-se
instalando e esse passado, doce e irrepetível, vai tomando lugar, preenchendo o espírito e toldando a objectividade à medida as faculdades desaparecem e as obsessões, antes domadas pela educação e pela capacidade de apagar para evoluir, se soltam.
É desses passados, aparentemente esquecidos que se desenterram baús
abandonados que, por vezes, são caixas de Pandora, prontas a infernizar vidas
mergulhadas em águas paradas, profundas. Vidas que deixaram de acreditar no milagre que perderam a ingenuidade e
deixaram de lutar, preferindo a sonsa gestão diária das aparências, dos prazeres mundanos e das alegrias vazias, apenas convencionais.
O que as amargura e entristece?, viver na solidão para que os seus actos as remeteram. A consciência de um certo vazio existencial que emerge da cumplicidade com o mundo desiludido e indiferente ao amor e à ternura, à verdade.
Que vale, de repente, alguma coisa a que dedicamos o nosso amor e a nossa paixão, em que confiamos como se confiássemos em nós próprios, e que, subitamente, vemos espezinhada pela traição, pela indiferença e pelo egoísmo? Um enorme vazio instala-se. Afinal nunca nada terá sido aquilo que pensáramos que era, e as pessoas que à nossa frente sorriam e nos falavam não eram elas mas outras que, sem verdade nem coragem, atrás delas se escondiam sem nos falarem nem nos sorrirem.
Que vale, de repente, alguma coisa a que dedicamos o nosso amor e a nossa paixão, em que confiamos como se confiássemos em nós próprios, e que, subitamente, vemos espezinhada pela traição, pela indiferença e pelo egoísmo? Um enorme vazio instala-se. Afinal nunca nada terá sido aquilo que pensáramos que era, e as pessoas que à nossa frente sorriam e nos falavam não eram elas mas outras que, sem verdade nem coragem, atrás delas se escondiam sem nos falarem nem nos sorrirem.
As personagens de “E se vivêssemos todos
juntos?” parecem ser, no final, tolerantes o suficiente para tudo ultrapassar
depois de um breve choque. Mas são personagens de um filme em que o relativismo
e a superficialidade imperam. Porque não cada um fazer só o que lhe apetece e
ter maçadoras responsabilidades que implicam sacrifícios e abdicar de nós
próprios por valores superiores? Aqueles que permitiram existirmos num mundo em
que pelo menos há a ideia de civilização, se é que isso importa.
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sábado, 9 de março de 2013
Hipnos e Morfeu
Deitados na cama ou até adormecidos num sofá ,
repetimos diariamente a experiência de morrer. Mas a morte de quem se reclina e
se deixa voluntária e docemente prostrar, acredita que, de manhã, uma luz
auroral lhe entrará pelo quarto e o fará acordar como quem ressuscita para a
vida consentidamente interrompida.
O sorriso com que se entra nesse irmão da
morte que é o sono, é traçado pela confiança de que a ressurreição é certa e
trará consigo uma certa renovação da própria vida que por horas se interrompe.
Mais enigmático ainda é, por se saber que,
muito provavelmente, se acorda de manhã, e, então, se regressa à vigilância, alguém se deitar tranquilamente apesar de ficar à total
mercê de qualquer acto que possa aproveitar essa suspensão da atenção, da
vigília e da guarda. Seres que vivem um terço do tempo da sua vida à mercê do
que os possa submeter, tomar, raptar, matar, etc., conseguem, ainda assim,
repousar a cabeça numa almofada e entregarem-se nos braços de Morfeu
(sonho), filho de Hipnos (Sono).
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
Registos de exposições, Inez Teixeira, Coração Aventuroso, Fundação EDP, Museu da Electricidade, 2013
Num primeiro momento, pensamos visitar um mundo que já antes
nos tinha sido apresentado, mas à medida que avançamos e fixamos a nova série
de pinturas e desenhos de Inez Teixeira mais nos deixamos envolver em vários
séculos de pintura e de literatura. Distingue-se da banal pintura contemporânea
que pretende ser apenas contemporânea e para isso recorre às estratégias de
representação e aos temas que fazem a actualidade dos media. Aqui é diferente, a sensibilidade informada pela longa e
detida reflexão de temas universais, cruzada com a contemplação da arte que já
superou a provação do tempo, desde as formas pictóricas e esculturais às
literárias, ou seja, as formas poéticas e não apenas estéticas, essa
sensibilidade culta introduz um grau de dificuldade interpretativo que não
inviabiliza a estesia mas a ela não se reduz.
Há na arte contemporânea uma espécie de truque que leva a
incluir num mesmo saco, numa mesma intencionalidade, toda e qualquer
manifestação que se autoproclame artística. A presunção democrática garante
depois o direito ao espaço público. A mesma presunção democrática igualiza
depois as obras e os artistas não deixando descolar diferenciações
desigualitarizantes. A natureza do espaço público contemporâneo é essa mesma
pseudo-igualdade e essa pseudo-licença à participação fazendo do número e da
quantidade símbolo e categoria, valorizadores das intenções e construtores de
uma verdade aclamada por unanimismos e consensos. Porém, a natureza da arte autêntica é
desigualizar, singularizar e diferenciar a criação individual.
Feito este aviso sobre uma suspeita antiga sobre o baixo valor
e até o pouco interesse intelectual da arte contemporânea e dos seus epígonos,
regressamos ao novo conjunto de obras de IT que distinguimos do discurso
temporal da contemporaneidade sem lhe atribuirmos um anacronismo nem uma necessária
expressão do seu contrário. Em Coração Aventuroso, título retirado à obra
homónima de Ernst Junger, Inez Teixeira aventura-se numa trama de abstracções quase
figurativas, permanentemente sugestivas e incompletas, suscitando um
“trabalho” incessante de reconstrução de aparências numa procura de lucidez,
identidade, reconhecimento e, finalmente, conclusão do que na pintura ficou em
aberto. Este trabalho a meias com o espectador, observador atento e
interactuante, abre um campo de memórias e de graus de realidade, que acabam
por regressar a um sempre mesmo
tropo: o regresso ao antes do princípio, o regresso ao
processo da criação: a libertação de um caos magmático, elástico, ainda
hesitante e moldável, mas já estruturado, uma espécie de pré-nascimento das
formas que cingem, delimitam e definem os corpos, realidade indivisível e sagrada, antes do golpe perpetrado pela filosofia (e a ciência) moderna.
Esta visão pré-criacionista, esta ebulição do elemento
natural na luta pela formação, pelo direito ao corpo, pelo direito à alma,
representa um apelo, ou pelo menos exibe um sinal de alerta para a necessidade
de rever tudo e recomeçar, como numa aventura vivida à procura do amor – com
carne e sangue, alegria e sofrimento.
Há uma noite (negro) de onde as formas parecem surgir
iluminadas e retorcidas, atraídas por uma luz que as impulsiona para se
formarem, para nascerem – um movimento que as perpassa e lhes parece dar um
destino. Aquilo que parece ser uma revolução da natureza assume-se, assim,
antes, como uma dramaturgia espiritual, uma inquietação da alma e uma expressão
da luta pela presença, pelo aparecimento, pela vida. Fluindo em curvas e
contracurvas, destacando ou esbatendo formas em fundos que ora são negros ora
parecem ser brancos, desenhando estas linhas que são em si mesmas
transfigurações permanentes sem cair no pecado ou na antecipação da linha
recta, a pintura pode ser o que todos quiserem sem que deixe de ser o que é.
Muitos se hão-de entreter a olhar e a tentar reconhecer as
formas que conhecem. É um processo comum aos homens por ser um acto espiritual:
traçar sobre o aparente caos uma linha que organize em formas cognoscíveis e
inteligíveis uma semelhança sobre a qual se possa dizer o que é. Quantos não o
fizemos a olhar uma parede com salitre ou as nuvens no céu? Mas também
reconhecerão citações , creio que involuntárias, de Goya, William Blake,
Yourcenar, obviamente Ernst Junger, entre outros.
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sábado, 19 de janeiro de 2013
Partir
Partir?, ninguém parte, apenas constrói o muro do esquecimento. Chega a parecer uma ficção surrealista a nossa tendência para sobrepor pessoas diferentes numa mesma conformidade, num mesmo contorno, numa mesma expressão. Os que amamos vemo-los sempre crianças, vemos sempre a suspensão dos seus sonhos por vir, mais tarde vemos a sua luta contra o desencanto e, por fim, a resignação nalgum porto a que chamam sorte e onde tentam encontrar uma racionalidade que justifique tantos projectos desfeitos, tantas expectativas não concretizadas, tantas desilusões.
Se procurarmos bem, nunca teremos de nos queixar, se nos compararmos com os outros, encontramos muitas vantagens em sermos nós, porém, por mais que nos exercitemos em nos imaginarmos outros, vistos de fora, sabemos que estamos amarrados a nós e só a nós, sem poder ser outro que não o outro de nós próprios, e nenhum consolo nos pode atenuar as dores nem nenhuma tragédia pode roubar-nos a alegria. A individualidade outorga-se no corpo e na carne, não há vidas emprestadas, nem vidas aliviadas, nem felicidades por interposta pessoa.
Lembro-me de pensar que o mundo era o que eu via e o que eu imaginava que seria a vida que as outras pessoas me contavam. O meu mundo mais o delas faziam o mundo que para mim contava. O que tinha racionalidade, totalidade, universalidade. O resto eram subúrbios e esboços da realidade que não chegavam a contar. Um dia, as outras pessoas começaram a morrer e com elas levaram parte do mundo tal como eu o imaginara, iria haver coisas que não iria chegar a ver nem conhecer. Cada um que partia levava consigo uma parte das minhas esperanças e um convidado do meu banquete, até que a mesa ficou quase vazia. Com os lugares postos expectantes. Ninguém parte!
O tempo passou, a juventude passou, parte da idade adulta já lá vai, e sem querer mascarar a velhice com uma surpreendente e patética juventude, recuamos no espaço até aos lugares da memória. Espírito e memória é tudo o que nos resta ainda que a carne ainda esteja vigorosa, os músculos reactivos e o ânimo vigilante. Espírito e memória são o que nos resta, aliás, são o que conta no regresso ao essencial, no regresso à vida com perspectiva, defronte do crepúsculo libertador. David Bowie pergunta-se: “Where are we know?”, regressando ao passado, e nós com ele, porque ele também é parte do nosso passado.
Mas os nossos passos já não são os passos de quem tem o direito ao presente, são sim os passos de quem passa pelo presente para ir a outro lado porque este presente já não lhe interessa, já não lhe pertence, está repleto de cadáveres imobilizados, toda a memória de um tempo perdido, ou temporariamente suspenso, porque não há esquecimento!, senão o voluntário. Aquele que precisamos de impor para viver sem sobrepor os amantes, as idades, as obras, os lugares e tudo – o tempo é o escalonamento do esquecimento. Os nossos passos, na fronteira da realidade a que pertencemos/não-pertencemos, reconstroem no espaço o que emerge da dissolução do tempo: a presença absoluta. Essa presença da vida inteira que não sabemos se é o inferno se é o paraíso. Depende do que tivermos inscrito na nossa carne, no nosso corpo, na nossa indissolúvel individualidade. Sem desculpas.
sábado, 12 de janeiro de 2013
Registo de Cinema XXI, Amour de Michael Haneke , 2012
Há dias perguntava-me um jovem como é que se descobre um
amor para a vida, como é que se sabe? Olhei-o e disse-lhe a verdade: não se
sabe!, mas acrescentei, pode acontecer..., pode acontecer que coincidam, no tempo
e no espaço, duas pessoas que, perante a esperança que a outra lhe abriu na
alma, queiram fazer perdurar para sempre esse sentimento iluminador e não
deixem que nada, alguma vez, se interponha entre elas, nenhum
sentimento, nenhum pensamento, e nenhuma ilusão faça fraquejar esse desejo comum de resistir para sempre à dissolução, à corrupção, à insignificação.
Como fazer isso? – perguntou-me. Disse-lhe: olhar para o
outro com a mesma admiração e respeito com que se olharam da primeira vez. Manter aberta a mesma expectativa. Num
certo sentido, manter a mesma cerimónia, não como quem se engana num registo falso e desapaixonado
de relação, mas como quem espera sempre, como quem ouve, não tem pressa e
dá sempre a vez. E porque fazê-lo?, porque, se preservar esse primeiro
sentimento irrepetível, esse momento de esperança, não terá de o procurar em mais lado nenhum, porque o
relâmpago é sempre o mesmo. E o que importa é o que se faz com ele e não
repeti-lo ou macaqueá-lo até à exaustão, até já não se saber do que é que se está realmente à procura.
Vinha a conversa a propósito do filme de Michael Haneke – Amour – em que um casal Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean Louis Trintignant) vive os últimos dias das suas vidas na intimidade e
no respeito do outro, sem que alguma
mínima brecha se abra perante as dificuldades da corrupção final do corpo que nesses dias perturbam a alma e a claridade de outros tempos. É como se vive a vida do Amor numa idade avançada, e, pergunto-me: – Não é nessa idade
avançada que a expressão da sua longa preparação se revela mais exultante? Não
é aí que o Amor e a Sabedoria se entrelaçam e exprimem, se longamente preparados? Veja-se a forma e o
desenlace do processo amoroso e
conclui-se que não há forma nem lógicas sociais entre os amantes, bons sensos, nem conselhos exteriores, mas apenas a
liberdade absoluta do seu Amor.
Os diálogos que desenvolvem, são diálogos de velhos
conhecidos, mas são diálogos que mantêm a distância que permite o jogo do que
se mostra e do se esconde, que permite o silêncio, mas também o atrevimento,
que permite e expressa a opinião mas aceita a contradição, sem falsos pudores
nem falsas indignações. Conversam observando, arriscando, brincando mas, ao
mesmo tempo aceitando, apreciando, amando. Conversam como quem ainda tem coisas
a dizer sobre o outro que ainda não teriam sido ditas, como se ainda tivessem
coisas para revelar e porquê?, porque a vida interior de cada um não se apagou, nunca se apagou e mantém, ainda e sempre, uma
pulsão, um vigor, uma actividade renovada que o outro percebe e inquire, procura descobrir, interroga e partilha.
Por isso, disse ao jovem com quem falava: o segredo do
Amor?, manter o pudor e a distância, prolongar infinitamente aquele momento
inicial como o maior tesouro que se pode guardar, e desfrutar dos seus
rebentos. E se bem pensarmos, o Amor e a Morte estão mais fundidos do que a
vida nos parece fazer querer. O filme de Michael Haneke tem essa virtude.
Mostra como o Amor e a Morte andam de braço dado nas vidas que têm a dimensão
humana e não se reduzem a um coleccionar de futilidades, pequenos prazeres e
excitações juvenis.
A Morte é um momento final, seja ou não de passagem. O Amor
é o condutor de toda a procura da verdade, porque é a procura vivida e
experienciada. Sem o outro que no Amor se procura, e encontra (quando encontra), a vida é uma
espécie de ramo seco.
Amor e Morte não andam sempre ligados pelas mesmas razões.
A melhor razão é aquela em que o Amor liberta da Morte e em que, simetricamente,
a Morte é libertadora. E poderá ser assim, sem ser mórbido, lúgubre, nem
penoso...? essa a beleza do filme de Michael Haneke.
Michael Haneke não trata o Amor como essa palavra gasta, profanada, usada indevidamente para mascarar as ilusões sem perder a
dignidade, ainda que se perca. Nem como essa muleta deturpada com que se pretende
legitimar por fora, exteriormente, aquilo que exige um mergulhar na provação profunda de
vislumbrar a morte, de a entrever sem ser como um fatalismo da existência
natural, mas como um símbolo do que há-de dar sentido, significado e redenção
às nossas vidas. Michael Haneke trata o Amor como aquele que não se diz mas
também não se reduz a um sentimento indizível ou apenas não dito, trata o Amor
como aquilo que se liberta do tempo, do tempo em que a Morte impera, e perdura confiante
e sereno sem nunca se turvar. Trata-o, por isso, na velhice para nos mostrar
como Amor, Sabedoria e Morte se entrelaçam.
Bem diferente de Um
Amor de Juventude de Mia Hansen-Løve onde um forma de Amor juvenil e
permanentemente hiperbólico, inseguro e absorvente conduzia, ainda que com
indiscutível beleza, a sucessivos insucessos. Mas aí devido à falta de
omnisciência dos amantes. Mas aí era o amor juvenil que se recusava a crescer. A possibilidade da comparação dos assuntos das duas obras pode ser muito revelador.
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