A propósito da demência de Margaret Thatcher, e tendo
presente Fernando Pessoa que uma exposição actualmente na Fundação Calouste
Gulbenkian trouxe à ribalta, mas considerando muitos outros.
O que é a normalidade e o que é a demência.
Falar sozinho, falar com fantasmas, viver mergulhado numa vida interior e ver
daí o mundo exterior, dar-lhe a partir daí um conteúdo, isso será demência? O
que sempre fizeram os artistas e os filósofos?, aqueles que o tempo nunca compreendeu
e, por isso, segregou ou nem sequer atendeu? A loucura, era ou não lucidez? Com
quem falar quando não há interlocutor? A quem ouvir quando ninguém pode dizer o
que importa dizer?
O ser excepcional tende para a solidão e para o
isolamento. Tem de construir o seu lugar, tem de construir as suas pontes e tem
de se construir no imaginário dos outros. É natural que fale sozinho, que conte
só consigo e que tenha uma determinação férrea e sem hesitações, pois, sabe que
não terá ajudas. Ao contrário dos que decidem sem responsabilidade diluídos no
grupo, o líder tem de decidir sozinho, não alija responsabilidades, não se
esconde, não se dissimula. Apresenta-se, afirma-se, confirma-se e sofre sozinho
as consequências.
O poeta maior, como o político maior, como o
artista ou o filósofo maiores, são inteiros e íntegros. São a sua arte e a sua
loucura no mesmo instante e no mesmo lugar. E não mudam. Talvez a percepção que
se tem deles mude, e muda, mas eles propriamente não mudam. Só sabem viver de
um modo. O que numa idade é visto como fulgor, percepção, talento e
singularidade, noutra idade é convertido em demência, loucura e alienação
degenerativa. Mas os sinais estão lá todos em todas as idades. Muda a alegria, transforma-se
a ingenuidade, enfraquece a determinação, empalidece a esperança, emerge uma
nostalgia e instala-se um sentimento de perda, mas não muda a obstinação, a
certeza da visão, a luminosidade.
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