1. Um
amor de juventude que não se sustenta porque é demasiado absorvente para ser
vivido na adolescência e que, permanecendo absorvente nos primeiros anos da
vida adulta, continua impossível e a ele têm de renunciar os amantes para que não
se consumam totalmente, esperando por anos de serenidade para se reencontrarem
definitivamente.
A
ideia que subjaz em toda a história é a de um amor que não se corrompe e
permanece na mais profunda idealidade e ternura. Porém, para que não se
corrompa, é transposto do palco da vida onde tudo se corrompe com o tempo, para
o altar da privação onde tudo é memória e possibilidade.
Enquanto
vive em potência, como esperança, como algo que não se deixa consumir, alimenta-se
da dor da privação, da voluntária privação que parece salvaguardar um bem
maior, um bem que projectado no futuro quase parece projectar-se para além do
real tornando-se ideal, ou seja, transcendente.
Atendendo
ao que no filme não é dito, de algum modo a juventude e a sua generosidade ingénua
é o padrão do mais fogoso e mais místico amor.
2. Na
moral da obra, o amor suplanta a infidelidade e a infidelidade acaba por ser o
factor de acalmia para a incendiada paixão que não se apaga. No reencontro
entre os amantes, não obstante ela, Camille (Lola Créton), estar comprometida com o marido, Lorenz (Magne-Håvard Brekke), tudo se
retomou como se nem se tivesse interrompido. A intimidade era quase natural e a
distância não existia. Porém, perante o prelúdio de uma nova alienação Sullivan (Sebastian Urzendowsky) impõe novo afastamento.
Depois
de uma reacção dolorosa Camille regressa a Lorenz e parece viver feliz na
resignação, porque sublima o amor e transporta-o para um outro estado em que
permanece dentro de si mais secreto e íntimo que nunca. Lorenz que é a figura
que a impede de se perder e lhe dá segurança, é para ela suficientemente
indiferente para não o confundir no seu amor e lhe permitir viver secretamente
e sem perturbação o seu amor enquanto sonho, enquanto ideal.
3. No
reencontro e nas saídas na sequência desse reencontro, Camille, procura as
diferenças que a separam de Sullivan e conclui que não sabe porque o ama tanto
e tão definitivamente. Sullivan, sempre aflito e preocupado com o que pode
perder por ser possuído por aquela avalanche amorosa, sabe em cada momento
afastar-se embora, depois, nada mais perca se não a presença e a companhia daquilo
que verdadeiramente ama: Camille.
4. Um filme em que a posse e a separação são pólos de uma visão jovem mas autêntica, de um amor sem manhas, sem truques, sem oportunismos, sem aviltamento do outro. Um amor puro, duradouro e resistente a tudo. Um filme em que a ingenuidade não se perde, ou não se deixa perder, e parece até encher a alma redescobrindo a alegria.
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